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Estado de Minas

Milhares fogem da Venezuela apesar do fantasma da xenofobia


postado em 21/08/2018 22:42

Daisy Santana teme mais voltar à Venezuela em crise do que encarar a xenofobia. Como ela, milhares de venezuelanos atravessam a Colômbia rumo a Equador ou Peru, sabendo que estão expostos a eventuais rejeições ou agressões.

O turbante improvisado protege Daisy do penetrante frio de Tulcán, município fronteiriço que separa o Equador da Colômbia e ponto convergente dos venezuelanos que esperam reconstruir suas vidas em alguma nação sul-americana.

"Todos sentimos medo, mas sentiríamos mais medo se tivéssemos que voltar", diz à AFP com ar de resignação esta mulher de 48 anos.

Acostumada ao clima cálido do seu país, ela sente gelar os ossos com as notícias que vêm do Brasil: no sábado um grupo de moradores de Pacaraima, em Roraima, queimou os poucos pertences de alguns compatriotas dela que também fogem da crise econômica da Venezuela.

O ataque em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, foi a resposta da comunidade a um suposto assalto cometido por venezuelanos. Chegam à região, assim como Ipiales e Cúcuta, no sudoeste e no nordeste colombiano, diariamente milhares de migrantes. Parecem em procissão.

- Em busca da segurança -

Daisy se põe no lugar de seus compatriotas e se agarra à mochila preta onde carrega seus poucos pertences, e ao tênis cor-de-rosa, com os quais começou a caminhar há 17 dias, quando deixou a Venezuela.

Há horas finalizou seu périplo na Colômbia e agora espera o aval do Equador, que exige passaporte dos venezuelanos, para prosseguir sua odisseia. As autoridades colombianas calculam que a metade dos emigrantes viajam só com cédula de identidade devido à escassez de papel em seu país para imprimir o documento internacional.

Santana tampouco tem passaporte. "Nós mesmos estamos buscando segurança em outros locais porque no nosso país não podemos nem mesmo ficar tranquilos", afirma. "Estar em outro local é melhor do que estar na Venezuela".

Ela percorreu os 1.500 quilômetros que separam Cúcuta de Tulcán "para começar do zero" no Peru. A maior parte percorreu de carro, mas também teve que caminhar pelas sinuosas vias colombianas.

Daisy não conhece Roberto Farías. Agora ele está a alguns metros coberto com uma camiseta. Diz sem alarmismo que tem os pés "um pouco machucados". O certo é que estão inchados de caminhar de dia e de noite.

"Houve momentos em que precisamos caminhar dias inteiros porque não nos dão carona", diz este barbudo, de 29 anos.

Como Daisy, Roberto também tem uma mochila preta e um objeto cor-de-rosa: outra maleta. E dividem uma certeza - ambos vão para o Peru - e uma dúvida: como serão recebidos aonde chegarem?

"Sinto um pouco de temor e medo (...) Esperemos que saia tudo bem e não nos rejeitem", afirma.

- Contra o tempo -

No meio de tudo, ambos tiveram sorte. Milhares de venezuelanos que cruzam diariamente Tulcán reconhecem que dezenas de desconhecidos os abordam para oferecer comida ou remédios, tão escassos no país petroleiro.

"Há muita gente que nos trata mal como tantos outros que nos tratam bem. É como tudo, tem gente boa e gente má", afirma Farías.

O novo desafio é conseguir superar o entrave imposto pelo Equador e seguir rumo ao Peru, onde têm parentes.

Mas o Peru, a partir de sábado, vai começar a exigir passaporte. A Colômbia, que recebeu mais de um milhão de pessoas da Venezuela nos últimos 16 meses e regularizou temporariamente 820.000, questiona a decisão de seus vizinhos por considerar que fomenta a migração irregular.

"Não temos nenhuma intenção de violar nenhuma lei, simplesmente estamos pedindo ajuda humanitária", explica José Antonio Estévez, com a ilusão de conseguir chegar a Peru antes do "Dia D".


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