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Estado de Minas

Agosto de 1968: oito dissidentes protestam em Moscou a favor da Tchecoslováquia


postado em 19/08/2018 08:24

Em 25 de agosto de 1968, na Praça Vermelha, em Moscou, oito opositores se manifestaram diante do Kremlin contra a entrada de tanques soviéticos na Tchecoslováquia, um gesto simbólico que marcou a história da dissidência na URSS.

Para Natalia Gorbanevskaya, Pavel Litvinov, Viktor Fainberg, Vladimir Dremliuga, Konstantin Babitsky, Larissa Bogoraz, Vadim Delaunay e Tania Baieva deu tempo apenas para mostrar os cartazes com frases como "vergonha aos ocupantes", "Por sua e nossa liberdade" e "Viva a Tchecoslováquia livre e independente", antes de serem presos por agentes da KGB.

A manifestação, de apenas alguns minutos,custou caro aos participantes. A tradutora e poeta Natalia Gorbanevskaya e o crítico de arte Viktor Fainberg foram enviados a uma clínica psiquiátrica e "curados" a base de medicamentos, ela por dois anos e ele por cinco anos.

Vladimir Dremliuga, operário, e o poeta Vadim Delaunay foram condenados a três anos cada um deles em um campo de trabalhos forçados na Sibéria e no norte do círculo polar.

Os linguistas Konstantin Babitsky e Larissa Bogoraz, asssim como o físico Pavel Litvinov, foram condenados a penas de três a cinco anos de prisão domiciliar em povoados da Sibéria.

A única que se livrou da prisão foi Tania Baieva, com 21 anos na época, pois os outros manifestantes a convenceram -levando em conta do quão jovem era- de dizer à KGB que estava apenas passando por ali.

- 'Nem heróis nem loucos' -

"Não éramos nem heróis nem loucos. Só queríamos atual segundo nossa consciência. Não queria me envergonhar mais tarde de não ter feito nada", disse Natalia Gorbanevskaya em uma entrevista à AFP em Moscou em 2013.

"Ao meio-dia levantamos nossos cartazes. Quase na mesma hora apareceram alguns agente da KGB vestidos como civis. Gospearam Fainberg até tirar sangue, quebraram vários dentes; bateram no rosto de Litvinov também", recordou a dissidente.

As manifestações eram muito raras na União Soviética, onde a população era vigiada de forma eficaz pela KGB, a polícia secreta do regime comunista.

Não existem fotos da manifestação na Praça Vermelha, exceto, talvez, nos inacessíveis arquivos da KGB. Apesar disso, o acontecimento se transformou em um elemento de fundação do movimento dissidente que estava se organizando naquela época na União Soviética.

A manifestação teve um eco considerável no Ocidente e os soviéticos souberam dela através das rádios estrangeiras que transmitiam em russo, como a BBC e a Radio Liberty.

Após a intervenção das tropas soviéticas, na madrugada de 21 de agosto, para asfixiar a Primavera de Praga, uma tentativa de liberalização do sistema comunista, aconteceram vários comícios oficiais na URSS em fábricas, universidades e kolkhozes (propriedades rurais coletivas).

"Os acontecimentos da Tchecoslováquia preocupam os operários da fábrica moscovita La Hoz e O Martelo", dizia o Pravda, jornal central do Partido Comunista da URSS, em 22 de agosto de 1968.

Os operários "apoiram calorosamente" a decisão do líder soviético Leonid Brézhnev de oferecer auxílio à República Socialista da Tchecoslováquia", ameaçada por "elementos contrarrevolucionários e seus instigadores do campo imperialista", segundo o jornal.

"Para nós era importante mostrar que, ao contrário do que afirmava a propaganda, 'o povo soviético por completo' não apoiava a invasão da Tchecoslováquia, e sim existiam pessoas que eram contra", disse Natalia Gorbanevskaya, que morreu em 2013.

- 'Brézhnev, fora!' -

Devido a seu caráter espetacular, a manifestação na Praça Vermelha ficou gravada na história, mas não foi a única amostra da oposição na URSS à invasão da Tchecoslováquia.

A "Crônica dos Acontecimentos em Curso", revista clandestina criada em 1968 por Natalia Gorbanevskaya, registrou muitos outros casos.

Alguns enviavam cartas abertas de apoio aos reformadores de Praga, outros tomavam a palavra em reuniões organizadas em suass empresas, arriscando-se a perder seu trabalho pela constestação.

Os panfletos e petições para denunciar a invasão corriam de mão em mão em Moscou e Leningrado (atual São Petersburgo), e um jovem de 20 anos foi condenado a três anos em um campo de trabalhos forçados por ter escrito na parede "Brézhnev, fora da Tchecoslováquia!".

Meio século depois, algumas pessoas na Rússia continuam sufocando a Primavera de Praga. Em 2017, o portal Tvzvezda, propriedade do Ministério da Defesa russo, publicou um artigo entitulado "A Tchecoslováquia deve ser agradecida à URSS por 1968", em que defendia que a intervenção permitiu evitar um golpe de Estado por parte dos ocidentais na Tchecoslováquia.

Diante da reação indignada das autoridades tchecas, o Primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, teve que assegurar de que não se tratava da posição oficial da Rússia.


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