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Estado de Minas

Iván Duque assume governo da Colômbia em meio a série de desafios


postado em 06/08/2018 10:18

O presidente de direita Iván Duque assume nesta terça-feira (7) seu mandato de quatro anos como presidente da Colômbia, em meio a uma série de desafios que terá de enfrentar.

Com 42 anos, o ex-senador sucederá a Juan Manuel Santos, que, depois de oito anos de mandato, deixa um país em uma difícil transição para a reconciliação com a já ex-guerrilha das Farc, com os cultivos de coca batendo recordes (209.000 hectares) e uma campanha de assassinatos seletivos contra ativistas sociais e de direitos humanos.

- A vasta sombra de Uribe -

Com uma efêmera carreira política, Duque foi o escolhido do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-10) para recuperar o poder da direita contrária ao acordo de paz com as Farc.

Durante a campanha, a artilharia opositora apontou para a influência de Uribe, chegando a chamar Duque de "marionete" do ex-presidente.

"Uribe vai ter uma influência importante e permanente sobre o governo", destaca Javier Torres, professor da Universidade Externado de Bogotá.

Pessoas ligadas a Uribe ocuparão postos-chave no novo gabinete: Defesa, Interior, Fazenda e Chancelaria.

Mas especialistas concordam que a imagem do político mais popular da Colômbia poderá ser manchada e, de passagem, atingir o novo governo por causa de um caso penal por fraude processual e suborno.

A Suprema Corte de Justiça, que julga os congressistas, investiga se Uribe manipulou testemunhos contra um senador opositor, em um caso que remonta a 2012 e que pode significar até oito anos de prisão.

"A situação implica uma carga negativa para Duque e pode enfraquecer o ex-presidente aos olhos dos colombianos", acrescenta Torres.

Uribe vai liderar a bancada governista, que será maioria no Congresso, depois de ser o senador mais votado nas legislativas de março.

- O fator Maduro -

Dificilmente poderão terminar de forma tão delicada as relações de Santos com o governo de Nicolás Maduro. O presidente venezuelano envolveu o presidente Santos em um suposto plano para assassiná-lo no sábado passado, algo que foi enfaticamente negado por Bogotá.

E nada faz prever que a relação melhore entre os dois países - que compartilham uma fronteira de 2.200 km - sob o mandato de Duque. Apesar de ferrenho opositor de Santos, o único ponto de convergência entre ambos diz respeito ao que o novo presidente chama de ditadura venezuelana.

Uma vez eleito, Duque prometeu trabalhar em "uma estratégia articulada, de maneira democrática, para que a Venezuela faça uma transição para eleições livres".

Em função da crise venezuelana, a Colômbia também enfrenta a maior onda migratória de venezuelanos de sua história. Já são 820.000 venezuelanos que atravessaram a fronteira e tentam regularizar sua situação na Colômbia, segundo cifras oficiais.

"Se Duque começar a contestar cada um dos pronunciamentos de Maduro (...) vai dar material de propaganda e virar inimigo real, ou imaginário, do regime bolivariano", comenta o analista político Jairo Velásquez.

- Sem paz completa -

O Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida oficialmente na Colômbia, está esperando que Duque decida logo o futuro da frustrada mesa de diálogo aberta por Santos.

Apesar de ter menos combatentes e uma capacidade de fogo menor do que as Farc, o grupo está há meio século em armas contra o Estado e é um fator real de poder em quase 10% dos 1.122 municípios colombianos, afirma a Fundação Paz e Reconciliação.

O novo presidente já antecipou novas e duras condições de diálogo que, na opinião dos analistas, são inaceitáveis para o ELN: suspensão de todas as atividades criminosas e concentração das tropas rebeldes sob verificação internacional.

"É muito difícil que o ELN acolha essas condições", afirma o acadêmico e pesquisador do conflito Camilo Echandía, acrescentando que isso se deve, "em grande parte, à fragmentação interna do ELN em um momento em que muitas de suas estruturas estão se reacomodando nas zonas que foram abandonadas pelas Farc".

- Oposição de rua -

Duque também enfrenta uma ferrenha oposição da esquerda e da centro-esquerda no Congresso, onde essas forças alcançaram uma votação histórica que é, no entanto, minoritária.

Liderada pelo senador Gustavo Petro, o ex-guerrilheiro derrotado pelo presidente eleito no segundo turno em 17 de junho, a esquerda promete protestos públicos em rejeição ao novo governo e em apoio ao acordo com as Farc.

O primeiro já está convocado em paralelo à posse do presidente, para lembrar as centenas de ativistas e defensores dos direitos humanos mortos.

"O sucesso desse tipo de estratégia é algo que é preciso observar, porque os colombianos não são muito dados a esse tipo de mobilização", explica Torres.

Entre seus críticos, também estão os dez congressistas do agora partido Farc, que chegaram ao Parlamento como parte do acordo no final de 2016. Duque se propõe a modificar o pacto de paz para impedir que rebeldes condenados por delitos atrozes possam ser eleitos políticos.

A Colômbia está profundamente dividida entre opositores e simpatizantes do acordo que evitou 3.000 mortes por ano e desarmou 7.000 combatentes.


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