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Estado de Minas

Bispos chilenos se desculpam por terem falhado com vítimas de abusos


postado em 03/08/2018 17:30

Os bispos chilenos pediram nesta sexta-feira (3) desculpas por terem falhado com as vítimas de abusos sexuais e anunciaram várias medidas para "solucionar o grave problema" da Igreja católica no país, que atravessa uma de suas piores crises.

Reunidos durante cinco dias em assembleia extraordinária em uma casa de exercícios espirituais em Punta Tralca, em frente ao oceano Pacífico, os bispos pediram "perdão em primeiro lugar às vítimas e aos sobreviventes".

"Fracassamos em nosso dever de pastores, ao não escutar, acreditar, atender ou acompanhar as vítimas de graves pecados e injustiças cometidas por sacerdotes e religiosos" e "por isso, pedimos perdão em primeiro lugar às vítimas e sobreviventes", manifestaram os eclesiásticos em uma declaração.

Eles anunciaram uma série de medidas para "dar uma resposta e começar pelo menos a solucionar o grave problema que temos na Igreja", disse o presidente da Conferência Episcopal, Santiago Silva, em coletiva de imprensa, antes de detalhar que haverá outras medidas de "médio e longo prazo" que serão anunciadas na próxima assembleia de bispos, em abril.

Entre as medidas destaca-se a "absoluta disposição para colaborar com a promotoria", encarregada das investigações com vistas a um processo criminal dos culpados, informou o monsenhor Silva.

- Autocrítica -

Desprestigiados pela sequência de denúncias de abusos sexuais cometidos pelo clero, os bispos decidiram que a partir de agora vão divulgar publicamente as investigações prévias sobre supostos abusos sexuais de menores de idade.

Os bispos se comprometem a encontrar "pessoalmente" as vítimas de abusos e lançar um olhar "autocrítico" aos aspectos estruturais "que permitiram a ocorrência e perpetuação do abuso na Igreja para que estes fatos não voltem a se repetir".

É que alguns, como o cardeal e arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, são acusados de suspeita de acobertamento de religiosos acusados de pedofilia. Ele está intimado a depor no próximo dia 21 na promotoria de Rancagua.

Os bispos nomearam à frente do Conselho Nacional de Prevenção de Abusos e Acompanhamento de Vítimas da Igreja a advogada Ana María Celis, com vistas a reforçar a instância. Também vão criar um departamento de prevenção de abusos para executar as orientações do mesmo.

"Sabemos que as decisões e compromissos a curto e médio prazos que hoje anunciamos não solucionam por si sós o flagelo dramático do abuso em nossa Igreja e as complexas causas e raízes do mesmo", admitiram na declaração.

- Ponto de inflexão -

Os anúncios feitos pelos máximos dirigentes da Igreja chilena supõem um "antes e um depois, um ponto de inflexão" no enfrentamento desta chaga que socava há anos as bases da instituição, não apenas no Chile, disse o secretário-geral da Conferência Episcopal, Fernando Ramos.

A viagem do papa ao Chile, em janeiro passado, também foi um divisor de águas na atitude da Igreja chilena e da própria justiça civil com estes delitos.

Diante da negativa das autoridades eclesiásticas de entregar informações sobre as denúncias à justiça civil - acolhendo-se no direito canônico -, a promotoria chilena pediu esta semana ao Vaticano os expedientes de nove religiosos investigados por abusos sexuais.

Até o momento, 73 pessoas são investigadas nos 38 inquéritos em curso sobre 104 vítimas, a maioria menores de idade no momento em que os atos foram cometidos.

Catorze sacerdotes foram suspensos pela Igreja.

Um dos últimos a entrar na prisão enquanto são realizadas as investigações é o sacerdote Oscar Muñoz, braço direito de Ezzati no arcebispado de Santiago, o máximo representante da Igreja chilena.

A Justiça também investiga os acobertadores e obstrutores dos inquéritos judiciais.

No começo da semana, um dos promotores que investigam as denúncias, Emiliano Arias, confirmou que houve destruição de provas por parte de religiosos.

Os bispos chilenos apresentaram em maio sua demissão coletiva ao papa Francisco, quando foram convocados no Vaticano. O pontífice só aceitou até o momento a renúncia de cinco, quatro deles por acobertamento.

E cada vez são mais numerosas as vozes para que aceite a renúncia do cardeal Ezzati, que juntamente a Francisco Javier Errázuriz, cardeal e arcebispo emérito de Santiago, são apontados pelas vítimas de abusos como os principais culpados pela política de silêncio que reinou na Igreja chilena.


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