Jornal Estado de Minas

Antirretrovirais estão mais acessíveis do que nunca para soropositivos

Quase três em cada cinco portadores do vírus da aids no mundo têm acesso a tratamentos antirretrovirais, uma proporção recorde - aponta um relatório anual da UNAIDS publicado nesta quarta-feira (18).

Em 2017, 21,7 milhões de pessoas tinham acesso a tratamentos, de um total de 36,9 milhões de infectados, de acordo com o informe, que adverte também para a falta de recursos para manter esta dinâmica.

No ano passado, 940.000 pessoas em todo o mundo morreram de doenças relacionadas à aids (990.000 em 2016), conforme dados divulgados antes da Conferência Internacional da aids em Amsterdã (23-27 de julho).

Em comparação com 2005, o pior ano da epidemia, registrou-se 1,9 milhão de mortes relacionadas à doença, e apenas dois milhões de pacientes de um total de 30 milhões tinham acesso a tratamentos.

"Ninguém poderia imaginar que colocaríamos 22 milhões de pessoas em tratamento em 2018. É um sonho", declarou o diretor-executivo da UNAIDS, Michel Sidibé, em entrevista coletiva em Paris.

Mas, "infelizmente, somos um pouco vítimas desses resultados", acrescentou Sidibé, lamentando uma "crise na prevenção".

"Isso está gerando uma complacência que põe em risco essas conquistas. Não é hora de baixar a guarda", ressaltou.

E, para manter essa dinâmica positiva, "faltam US$ 7 bilhões anuais" em financiamento, disse Sidibé à AFP.

No ano passado, 20,6 bilhões de euros (24 bilhões de dólares) foram destinados a programas de luta contra a aids em países com poucos recursos, segundo o relatório.

- Objetivos da ONU -

Sob a administração de Donald Trump, porém, os Estados Unidos, historicamente o principal país contribuinte na luta contra a aids, planejam reduzir sua participação financeira.

"O temor é que a diminuição das contribuições dos doadores internacionais leve a uma reversão dos investimentos domésticos nos países afetados", afirmou Sidibé.

"Pelo menos 44 países dependem de 75% da ajuda internacional para combater a epidemia", indicou.

"Se não tivermos esses recursos, há um risco significativo de um surto da epidemia, com risco de aumento da resistência e da mortalidade", advertiu Sidibé.

Isso compromete a meta estabelecida pela ONU para 2020: que 90% das pessoas que vivem com o HIV estejam cientes de seu estado, que 90% deles estejam sob tratamento e que, entre estes, 90% tenha uma carga viral indetectável.

"Precisamos atingir os 30 milhões de pacientes tratados em 2020", disse o chefe da UNAIDS.

- Generalização na Rússia -

No ano passado, houve 1,8 milhão de novas infecções, um número estável em relação aos anos anteriores. No entanto, esses resultados globais escondem grandes disparidades.

Na África Ocidental e Central, apenas 40% dos pacientes têm acesso a tratamentos. "Alguns países continuam a nos preocupar, como a Nigéria, que responde por metade de todas as novas infecções na África Ocidental", segundo Sidibé.

Outra fonte de preocupação é a Rússia. A epidemia neste país "está se generalizando. Concentrada até agora na população que injeta drogas, afeta cada vez mais a população em geral", disse Sidibé.

Ele ressaltou que as "leis geralmente punitivas" russas impedem "a aplicação de políticas de redução de riscos, que permitiriam aos que injetam drogas acesso aos serviços de saúde". Consequência: "essas pessoas escondem e infectam seus parceiros".

No caso da América Latina, das 1,8 milhão de pessoas que viviam com aids em 2017, 1,1 milhão (61%) tiveram acesso a tratamentos antirretrovirais.

- Crianças sem tratamento -

Sidibé destacou ainda que os progressos da luta contra a aids nas crianças são insuficientes, apesar de ter evitado 1,4 milhão de novas infecções entre esta população desde 2010.

"Mais de 50% das crianças continuam sem acesso a tratamentos e, no ano passado, houve 110.000 mortos e 180.000 novas infecções entre eles.

É inadmissível", acrescentou.

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