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Estado de Minas

Uma Nicarágua em luto tenta promover frágil diálogo


postado em 17/06/2018 18:00

O luto é o denominador comum neste domingo (17) na Nicarágua: a morte de seis membros de uma mesma família na véspera, em um ataque contra sua casa, chocou o país, há dois meses mergulhado em protestos contra o governo que já deixaram 178 mortos.

Hoje, multiplicaram-se as críticas pela crescente violência no país.

O encontro de sábado entre governo e oposição, pelo segundo dia consecutivo após a retomada das discussões, foi ofuscado pela morte de oito pessoas. Seis delas, entre as quais um menino de dois anos e um bebê, quando um grupo armado incendiou sua casa.

"Que dias horríveis têm sido! Mortes seguidas de mortes, policiais liderando hordas de paramilitares, jovens desaparecidos, agredidos! Tanta violência terminou ontem (sábado) no dantesco e tristíssimo incêndio, onde morreu uma família inteira com crianças pequenas", repudiou neste domingo a reconhecida escritora nicaraguense Gioconda Belli.

Em uma carta pública, Belli se dirigiu à vice-presidente e primeira-dama Rosario Murillo, com quem compartilhou o exílio durante a luta contra a ditadura somocista (1936-1979).

Murillo rejeitou a responsabilidade do governo nos últimos crimes, os quais classificou de "monstruosidade".

"É abominável provocar tanta dor" e "depois acusar. Quanto descaramento, quanta maldade", rebateu, em declarações no sábado à noite.

Seis dos mortos de ontem eram membros de uma família, cuja casa foi incendiada por bombas molotov lançadas por homens encapuzados armados, informou a Polícia.

Nesse mesmo dia, outras duas pessoas morreram atacadas por encapuzados que tentavam liberar uma estrada bloqueada, segundo as autoridades.

A Chancelaria divulgou vídeos de ambos os crimes, como uma "amostra das ameaças que a família assassinada recebeu" nas redes sociais por, supostamente, ter participado do movimento estudantil 19 de Abril.

Hoje, centenas de pessoas acompanharam o enterro da família assassinada, por cuja morte culpam grupos apoiados pela Polícia.

"Eram homens armados que andavam com fuzis, em uma caminhonete. Eu me joguei da varanda e ainda tentaram me matar, mas não conseguiram (..) Os meninos choravam, pedindo ajuda", contou a sobrevivente Cinthia Velázquez, durante o enterro.

"Eu mesma vi a caminhonete com a Polícia e todos os (homens) armados", disse a mulher.

"Governo mentiroso, hipócrita, vão embora estes donos do poder. Malditos desgraçados que atacam o povo!", gritou a multidão presente em um cemitério de Manágua.

Considerado o mais brutal da Nicarágua durante os protestos, o massacre foi condenada pela Organização de Estados Americanos (OEA) como um crime de "lesa-humanidade".

Neste domingo, a violência continuou, e pelo menos uma pessoa morreu em Masaya (sul), depois que policiais e paramilitares enfrentaram manifestantes em uma das barricadas que cercam a cidade, informou o secretário da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos, Álvaro Leiva.

Pelo menos 178 pessoas perderam a vida desde o início dos protestos, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).

- Avanços do diálogo -

Em meio à dor, o diálogo reaberto na sexta-feira entre governo e oposição conseguiu avançar no sábado na discussão da agenda de democratização, que inclui a proposta de antecipar a eleição presidencial de 2021 para março de 2019.

"Que tenhamos começado é um avanço, porque o objetivo final desse diálogo é iniciar um processo de democratização e que se faça justiça pelas vítimas dessa repressão selvagem", declarou à AFP o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina.

As sessões continuarão na segunda-feira, com as comissões de trabalho, criadas pelos bispos para tratar das reformas no Estado.

Os bispos propõem ainda que reformas constitucionais necessárias para antecipar as eleições entrem em vigor este ano e que, nelas, seja eliminada a reeleição presidencial para impedir que Daniel Ortega, no poder desde 2007, volte a se candidatar.

Nas conversas até agora, o governo aceitou convidar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e a União Europeia (UE) para acompanharem a situação de violência.


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