Donald Trump e Kim Jong Un celebraram nesta terça-feira (12) uma reunião de cúpula histórica que terminou em um acordo no qual a Coreia do Norte prometeu uma "desnuclearização completa", mas que deixa muitas perguntas sem respostas.
Após décadas de tensão pelas ambições nucleares da Coreia do Norte, o presidente americano afirmou que o "processo de desnuclearização" poderá começar "muito em breve".
A frase da declaração conjunta é bastante vaga a respeito de um calendário e cita negociações posteriores, que começarão a partir da semana que vem e serão lideradas pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
O documento também não afirma que a desnuclearização será "verificável e irreversível" como exigiam os Estados Unidos, o que poderia ser interpretado como um recuo de Trump.
"Kim Jong Un reiterou o compromisso firme e inquebrantável a favor de uma desnuclearização completa da península coreana", afirma o documento.
"A Coreia do Norte não prometeu nada mais do que promete há 25 anos", afirmou à AFP Vipin Narang, professor do Massachusetts Institute of Techonolgy.
"A esta altura, não há nenhuma razão para pensar que a cúpula resulte em algo mais concreto em termos de desarmamento".
Analistas e historiadores acreditam que existe uma possibilidade, mas recordam que o regime de Pyongyang tem um histórico de promessas não cumpridas. Em 1994 e em 2005 foram anunciados acordos que nunca foram aplicados.
- Aperto de mãos -
Na longa e desordenada entrevista coletiva posterior, Donald Trump, que disse não ter dormido durante 25 horas, afirmou, sem revelar detalhes, que a desnuclearização será submetida a verificações e que as sanções contra a Coreia do Norte permanecerão em vigor enquanto persistir a "ameaça" das armas nucleares.
Trump anunciou que Pyongyang destruirá uma instalação de testes de mísseis e fez uma importante concessão, ao informar que encerrará as manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul, cujo fim a Coreia do Norte exige há anos.
Declarações que visivelmente surpreenderam o comando das Forças Americanas na Coreia do Sul (USFK), que disse em comunicado não ter "recebido nenhuma instrução sobre a aplicação ou fim das manobras, incluindo o exercício Ulchi Freedom Guardian" previsto ao fim do verão.
Esta reunião, a primeira entre um presidente americano no cargo e um líder norte-coreano, foi marcada por apertos de mãos e sorrisos, algo inimaginável há alguns meses, quando os dois trocavam ameaças e insultos.
Kim afirmou que "virou a página" e superou obstáculos para chegar a um encontro que é "um bom prelúdio para a paz".
Trump considerou que estabeleceu "um vínculo especial" com o líder do regime norte-coreano, que comanda o país com mão de ferro, assim como seu pai e seu avô.
Sorridente, Trump considerou a reunião "realmente fantástica" e que transcorreu "melhor do que qualquer um teria esperado" e permitiu fazer "muitos progressos".
Donald Trump multiplicou as demonstrações de afeto e elogiou Kim, a quem chamou de "muito talentoso" e de "ótimo negociador", palavras geralmente reservadas a aliados.
Trump também se declarou disposto a convidar Kim à Casa Branca e não descartou viajar, "no momento apropriado", a Pyongyang.
- 'Enorme vitória para Kim' -
Já a bordo do Air Force One a caminho dos Estados Unidos, o presidente disse à imprensa que confia no líder norte-coreano no que diz respeito à desnuclearização.
Nessas conversas "não teríamos podido fazer mais nada" por enquanto, acrescentou.
"É uma enorme vitória para Kim Jong Un, que fez uma grande jogada com seu cara a cara com o presidente", afirmou Michael Kovrig, do International Crisis Group (ICG) em Washington. Seu pai e seu avô "sonharam com isto".
"Para os Estados Unidos e a comunidade internacional é um ponto de partida positivo para negociações que serão longas e difíceis", completou Kovrig.
O presidente sul-coreano Moon Jae-in chamou o acordo de Singapura de "evento histórico que ajudou a derrubar o último legado que restava da Guerra Fria".
O governo da China, principal aliado da Coreia do Norte, aplaudiu o início de uma "nova história".
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, celebrou um "primeiro passo para uma solução" e a Rússia considerou o encontro "positivo", enquanto a União Europeia afirmou que era um "passo crucial e necessário". .
O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o encontro de marco importante para a desnuclearização da península da Coreia.
Após o aperto de mão e os sorrisos para os jornalistas e o mundo, Trump e Kim se reuniram durante quase cinco horas: primeiro sozinhos, durante 40 minutos, e depois em uma reunião de trabalho, seguida de um almoço com um menu de pratos ocidentais e asiáticos.
Kim Jong Un foi acompanhado por seu braço direito Kim Yong Chol, que visitou recentemente a Casa Branca, e por outros dirigentes do partido no poder, como sua irmã Kim Yo Jong.
O presidente dos Estados Unidos, que chegou ao poder sem qualquer experiência diplomática, assumiu grandes riscos há três meses ao apostar neste encontro de cúpula.
O arsenal nuclear norte-coreano provocou uma série de sanções da ONU ao longo dos últimos anos.
Para convencer a Coreia do Norte a renunciar ao mesmo, o presidente americano se comprometeu no documento a dar "garantias de segurança".
Pompeo afirmou na segunda-feira que são "garantias de segurança únicas, diferentes" das propostas até agora.
O presidente Trump embarcou no fim da tarde para os Estados Unidos, antes de Kim, que deve partir de Singapura ao anoitecer.
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