O ministro de Relações Exteriores britânico Boris Johnson enfrentou, nesta sexta-feira (8), pedidos de renúncia ao sugerir, em uma conversa privada, que teria que encarar o Brexit como Donald Trump o faria e prever um "colapso" das negociações com Bruxelas.
Durante um jantar em Londres com outras 20 pessoas, que ele acreditava ser privado, mas cuja gravação foi obtida pelo BuzzFeed News, o eurocético ministro sugeriu: "Imaginem o Trump fazendo o Brexit".
"Ele faria com dureza (...). Teria ataques nervosos de todos os tipos, caos de toda espécie. Todo mundo acharia que ele ficou louco. Mas talvez chegasse a algum lugar", avaliou o ministro. "Estou cada vez mais convencido de que há método na sua loucura".
O ministro avaliou que está chegando a uma fase das negociações e que seu governo "é mais combativo com Bruxelas" e previu que elas vão sofrer um colapso.
"Temos que enfrentar o fato de que agora pode acontecer um colapso. De acordo? 'Pro bono publico' [para o bem público], que não haja um maldito pânico. Tudo vai dar certo no final", garantiu.
O ministro estimou que a saída da UE, prevista para março de 2019, é "irreversível", mas admitiu: "corremos o risco de que não seja a que queríamos".
Em todo caso, segundo o jornal The Times, o ministro defendeu uma postura mais combativa com Bruxelas: "levar a luta ao terreno do inimigo. É o que é absolutamente correto. Precisamos fazer isso, e faremos".
Uma fonte próxima a Johnson confirmou sua insatisfação com o vazamento das declarações, sem desmentir nada do que foi dito.
"Era um jantar privado sob as regras Chatham House [que significa que não se podia informar de seu conteúdo], assim é triste e muito decepcionante ter sido gravada secretamente e distribuída à imprensa", afirmou esta fonte.
- May reitera sua confiança -
Contudo, as críticas e pedidos de renúncia de Johnson se acumularam, e Bruxelas respondeu, sem citá-lo, que não vai se deixar impressionar.
"Não nos deixaremos impressionar, não me impressionará esta forma de 'blame game', um jogo de atribuição de culpas que 'alguns introduziram no Reino Unido e pelo qual pretendem nos responsabilizar pelas consequências", afirmou o negociador europeu para o Brexit, Michel Barnier.
Através de um porta-voz, a primeira-ministra Theresa May, que nesta sexta chegou ao Canadá para participar da reunião de líderes do G7, reiterou sua confiança em seu ministro.
"É claro", respondeu à imprensa seu porta-voz quando questionado se May ainda confia em Johnson.
Seu companheiro do gabinete, o ministro das Finanças Philip Hammond - acusado por Johnson, na gravação, de tentar continuar ligado à UE - disse que é melhor adotar uma posição conciliatória nas negociações de saída.
"Na minha experiência, uma estratégia colaborativa é mais produtiva do que uma de confronto", disse Hammond em um discurso, de acordo com a rede de televisão ITV.
A vice de seu próprio partido, Sarah Wollaston, questionou se era um vazamento e comparou essa situação a "quando [Johnson] usa o grupo conservador no WhatsApp" para manifestar suas posições.
Já sua rival Nicola Sturgeon, chefe do governo escocês e líder do Partido Nacional Escocês independente (SNP), pediu sua renúncia.
"Eu não acho que Boris Johnson seja alguém que deveria ocupar um dos cargos mais altos do Estado", disse ele à BBC.