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Estado de Minas

Outra seleção tenta fazer história no Mundial de futebol para cegos


postado em 07/06/2018 22:06

Longe dos holofotes da Rússia-2018, a Seleção brasileira de futebol para cegos também se preparou para fazer história conquistando o pentacampeonato do Mundial da categoria, disputado em Madri até 17 de junho.

A "Canarinho", que estreia na sexta-feira contra Mali, aumentou o ritmo antes de cruzar o oceano Atlântico. Sessões duplas de treinamento, ajustes táticos e a ansiedade das vésperas do torneio se misturaram no moderno Centro Paralímpico de São Paulo.

"Todo o mundo quer derrubar o atual campeão, que é o Brasil, e a gente quer ficar com o título de novo. Vai ser difícil, mas vamos brigar muito", afirmou Ricardinho, tricampeão paralímpico e melhor jogador da última edição.

Algo se sabe da trajetória do gaúcho de 29 anos, que aos cinco já sabia que queria ser jogador de futebol. Habilidoso, passava o dia agarrado à bola, e os vizinhos aconselharam seu pai a levá-lo para fazer testes em clubes. Mas um problema na retina acabou deixando-o cego aos oito.

"Quando perdi a visão, além do choque de não enxergar mais, me doeu muito pensar que nunca mais eu ia jogar ao futebol", contou.

O futebol de 5 devolveu algo que a doença o roubou: a vontade de jogar. Tinha 10 anos e toda a força para recomeçar. "Comecei a treinar e tive uma segunda oportunidade", lembra o autor de mais de 100 gols com a seleção.

Por conta da falta de bolas com a "cascavel" regulamentar, que faz um som para os jogadores se localizarem, envolveu as bolas que tinha com sacolas plásticas para se encontrar pelo ruído.

Sua família se mudou para Porto Alegre, levando-o a uma escola especializada. Aos 17 anos, estreou no Mundial de 2006, sendo eleito o craque da competição.

Agora, Ricardinho busca sua terceira Copa e um novo recorde para a Seleção, maior vencedora com quatro troféus (1998, 2000, 2010 e 2014).

- 'Guerreiros' -

A moderna quadra de futebol de 5 de São Paulo é uma mistura de vozes. Enquanto o goleiro, único jogador que pode ver, organiza a defesa, o técnico lança instruções. Já o chamador, assistente que fica atrás do gol adversário, posiciona o ataque. Eles são os olhos dos jogadores, que interpretam as indicações com rapidez.

"Vou", grita o ala Mauricio Dumbo ao arrancar com a bola, guiado por um som. É preciso avisar quando se vai atrás da bola, nesta quadra que ser mantém em silêncio.

Concentrado, este angolano fugido da guerra para chegar ao Brasil com 11 anos, não perde detalhes. Para ele, o sarampo tirou sua visão quando era criança, mas já era tarde para separá-lo da bola. Aos 28 anos, realizou o sonho de ser profissional e campeão paralímpico.

"Estou bastante ansioso e ao mesmo tempo feliz, porque não foi uma caminhada fácil estar aqui entre os dez. Acredito que já venci a primeira batalha e se Deus quiser seremos campeões mundiais", garante.

A magia do esporte chegou através do rádio, veículo favorito para acompanhar futebol pelos detalhes incluídos pelos narradores.

O jovem chegou analfabeto ao Brasil e agora está estudando direito, mas o sonho é ser reconhecido pela sociedade como se deveria.

"Meu sonho é que a gente seja visto como atletas profissionais, como somos. Que a mídia e a torcida nos deem mais visibilidade", reclamou.

O ouro nas paralimpíadas do Rio deu a oportunidade de voltar para a Angola e abraçar sua mãe 15 anos depois. Agora, quer voltar a fazer história.

"Todo o mundo é guerreiro na vida, tem a suas dificuldades. A minha é a visão, outras pessoas podem ter outras dificuldades. Nessa vida estamos aqui para ser guerreiros", afirma.


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