Jornal Estado de Minas

Sánchez, com as mãos atadas ante 'urgências' sociais na Espanha

O socialista Pedro Sánchez prometeu atender as "urgências" sociais na Espanha, um objetivo praticamente inalcançável para um governo fraco e sem margem de ação por seus compromissos com Bruxelas, em um momento delicado no horizonte econômico, de acordo com economistas.

Chegado ao poder na sexta-feira depois de retirar o conservador Mariano Rajoy com uma moção de censura, Sánchez assegurou nesta quarta-feira (6) que seu governo lutará "contra todo o tipo de desigualdade".

Baixos salários e aposentadorias, precariedade trabalhista, falta de igualdade salarial de gênero, cortes na saúde pública: ele mesmo enumerou os seus desafios.

Aos 46 anos e sem experiência de governo, Sánchez recebe um país que, após superar a crise, encadeou quatro anos de crescimento, três deles acima de 3%, mas que continua tendo a segunda pior taxa de desemprego da zona do euro, 16,7%.

Com o recorde da União Europeia (UE) com assalariados com contrato temporário (26,8%), a quarta economia da zona do euro apresenta um déficit em seu sistema de aposentadoria de 18 bilhões de euros.

Com o aguardado aumento dos tipos de juros do Banco Central Europeu e um petróleo em alta, "o cenário daqui a dois anos pode ser de desaceleração econômica e do ritmo de criação de empregos, e esse é o cenário que Pedro Sánchez terá que gerir", afirma Emilio González, professor de Economia da Universidade Pontifícia Comillas ICAI-ICADE.

De imediato "Sánchez não tem muita margem de ação porque se comprometeu a executar os orçamentos de 2018" do governo conservador e de cumprir "com o objetivo de déficit público marcado por Bruxelas", resume o professor de Economia da IE Business School, Juan Carlos Martínez Lázaro.

Os orçamentos de 2018 incluem um aumento do gasto público de quase 3%, embora o governo anterior tenha garantido a redução da dívida a 97% do PIB e do déficit a 2,2%, graças a um crescimento projetado de 2,7% este ano.

Com apenas 84 assentos socialistas no Parlamento, distante da maioria absoluta de 176, a "primeira dor de cabeça" para Sánchez será conseguir apoio para fixar o teto dos gastos, fundamental para preparar o orçamento de 2019, adverte Antonio Barroso, do escritório Teneo Intelligence.

Semanas atrás, os socialistas esboçaram a possibilidade de aumentar o gasto mediante novos impostos a rendas altas, aos bancos, ou às transações, estas últimas para sustentar as aposentadorias.

"O problema é que esses impostos dão pouca arrecadação", opina Martínez Lázaro, considerando que subir outros impostos delicados para a população como o da renda "seria suicídio" para os socialistas.

Sánchez também anunciou um alto comissariado para a pobreza infantil e analisa uma lei de igualdade salarial.

"Existem questões sociais que podem ser feitas, mas, no final, devem estar acompanhadas de contribuições orçamentárias" para não ficar no nada, adverte Martínez Lázaro.

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