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Estado de Minas

Migrantes são 'comércio muito lucrativo' em ilhas Kerkennah, Tunísia


postado em 06/06/2018 16:00

"É um comércio muito lucrativo", exclama Ibrahim, membro de uma rede de traficantes que aproveita o vácuo de segurança em uma ilha tunisiana do arquipélago de Kerkennah para ganhar dinheiro enviando à Europa milhares de migrantes que arriscam a vida.

No fim de semana passado, ao menos 66 pessoas - em sua maioria tunisianos - morreram no naufrágio da embarcação em que viajavam no litoral de Kerkennah, arquipélago situado em frente a Sfax (leste), a segunda cidade mais importante do país. Os trabalhos de resgate permitiram socorrer 68 pessoas. Algumas ONGs temem um balanço superior a 100 mortos.

No ano passado morreram 46 migrantes quando sua embarcação colidiu com outro barco.

O ministro do Interior, Lotfi Brahem, foi destituído e será substituído provisoriamente pelo da Justiça, Ghazi Jribi, informou o governo.

Há um ano, Ibrahim (nome modificado) atua como intermediário entre os migrantes que buscam um futuro melhor na Europa e os traficantes, uma tarefa pela qual ganha 500 dinares (cerca de 165 euros) por pessoa, disse à AFP.

"A ausência de polícia fomenta as saídas em direção à Itália", afirma.

Durante os dois últimos anos, as Kerkennah (16.000 habitantes) se transformaram em uma plataforma de saída em direção À Europa devido a "um vazio de segurança", confirma à AFP Jlifa Shibani, porta-voz do Ministério do Interior.

Neste ano, quase 6.000 migrantes tentaram realizar a travessia, 2.064 deles a partir de Kerkennah, acrescenta.

O "vazio de segurança" remonta a distúrbios ocorridos em 2016 no arquipélago, quando manifestantes incendiaram delegacias durante protestos contra o grupo petroleiro britânico Pétrofac. Desde então, "o número de policiais diminuiu consideravelmente", afirma Shibani.

Além disso, quando os migrantes são detidos, a justiça costuma deixá-los em liberdade, acrescenta um responsável de segurança que pede anonimato.

Os candidatos ao exílio "sabem que em caso de prisão na região de Sfax e Kerkennah, serão soltos rapidamente", lamenta.

Consciente do problema, o primeiro-ministro, Yusef Shahed, exortou a desmantelar "o quanto antes" as "redes criminosas que se aproveitam destes jovens que querem emigrar e põem suas vidas em perigo".

As autoridades buscam supostos traficantes e anunciaram a destituição de vários responsáveis de segurança de Sfax e Kerkennah. As medidas não desanimam Ibrahim que, usando sandálias de plástico e um anoraque azul, avança por uma pista que leva, após oito quilômetros, a Al Jorf, ponto de reunião dos candidatos ao exílio.

Segundo todos os testemunhos, de lá partiram 180 migrantes no sábado. Várias fontes asseguram que a embarcação, com capacidade para metade das pessoas, afundou três horas depois.

- "Morto-vivo" -

Diante do necrotério do hospital universitário Habib Burguiba de Sfax, várias famílias choram enquanto esperam sua vez para reconhecer os corpos.

"As autoridades querem deixar nossos filhos morrerem! Os jovens já não têm esperança aqui! Estão perdidos!", grita Fareh Jlifa, pai de Riadh, natural de Hama, perto de Gabès (sul), dado como desaparecido.

Lívido e com os lábios desidratados, Kais, um jovem de Mahdia (leste), espera em frente a um hospital notícias de seu irmão Zubeir, de 17 anos. Uma hora depois, uma enfermeira o chama para que identifique "o corpo de um adolescente".

"Não há diferença entre estes mortos e eu. Eu também sou um morto-vivo. Não tenho presente nem futuro! (...) Meu país não me oferece nada e não me quer, quero ir embora daqui a qualquer preço!", afirma um sobrevivente da tragédia, que pede anonimato.

Sua perna esquerda está enfaixada, devido a uma ferida sofrida no naufrágio, onde afirma ter "vivido o horror".

"Nadei durante quatro horas, empurrava os corpos que flutuavam para a direita e a esquerda, me agarrei a uma prancha até que chegaram a guarda marítima e os militares", afirma. "Na próxima vez, conseguirei! Não ficarei para viver na Tunísia", assegura.


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