Paris, 06 - A gigante automobilística francesa PSA, proprietária das marcas Peugeot, Citroën, Opel e DS, anunciou nesta terça-feira, 5, em Paris, que vai suspender suas atividades no Irã em razão dos riscos provocados pelas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos.
A decisão vai na mesma linha da adotada por outra multinacional francesa, a petrolífera Total. A retirada das empresas representa um duro revés à estratégia de resistência econômica de França, Alemanha e Reino Unido às represálias anunciadas por Donald Trump após o rompimento do acordo nuclear assinado com Teerã.
Em um comunicado, a companhia confirmou que vai interromper suas atividades, iniciadas em 2015, após o fim das sanções internacionais. Desde então, o Irã havia se tornado o maior mercado estrangeiro para as montadoras do grupo, com 445 mil veículos vendidos, à frente de mercados como China e Reino Unido. O total negociado ainda era pequeno, em relação ao movimentado em todo o mundo - 1% -, mas as perspectivas eram de crescimento.
O anúncio ameaça a credibilidade da iniciativa lançada pelo governo de Emmanuel Macron, que tentava articular uma frente comum com Alemanha, Reino Unido e União Europeia, para resistir à pressão econômica representada pelas sanções americanas.
A ofensiva europeia encontra várias barreiras. A primeira é falta de mobilização do governo de Angela Merkel, na Alemanha, para enfrentar as represálias americanas. Como a economia do país é dependente das exportações, e como os EUA são o seu mercado prioritário fora da Europa, a opção de tentar responder às sanções colocaria em risco o equilíbrio econômico alemão.
Além disso, a ideia de rever o "escudo jurídico" criado em 1996 para defender a Europa das represálias dos EUA teria efeitos limitados. Por fim, a hipótese de transformar o Banco Europeu de Investimentos na entidade que financiaria as empresas europeias em euro não cobriria o volume de comércio das empresas do continente. O elemento que deixa os EUA em posição de força é o fato de o dólar ser a moeda de referência do comércio internacional.
Para Pascal Perrineau, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, de Paris, a questão por trás do impasse diz respeito à capacidade da Europa de ditar os próprios interesses econômicos.
Para Perrineau, se a Europa ceder, perderá espaço no Irã para grupos da China, menos sensíveis às pressões americanas do que a Europa.
Segundo Sébastien Jean, economista e diretor do Centro de Pesquisa e Expertise sobre a Economia Mundial, empresas como Total e PSA não podem evitar o dólar e os bancos americanos para financiar suas atividades. "É uma questão de soberania econômica que está colocada, pois somos dependentes dos EUA", explica. "Estamos em um jogo de forças políticas, e esse não é o domínio em que a Europa é mais forte, pois não é por definição um Estado, mas um bloco de Estados que nem sempre têm coesão." As informações são do jornal
O Estado de S.
(Andrei Netto, correspondente).