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Estado de Minas

Guerra e deslocamentos alteram mapa demográfico da Síria


postado em 25/05/2018 14:54

Sete anos de guerra e de deslocamentos em massa redesenharam o mapa demográfico na Síria, levantando fronteiras entre as comunidades étnicas, religiosas e políticas do país que serão difíceis de derrubar.

Nessa nova Síria, os opositores ao governo foram expulsos de várias regiões, as minorias estão mais federadas, e as comunidades são geograficamente mais homogêneas, descreveram pessoas deslocadas, analistas e defensores dos direitos humanos em conversas com a AFP.

Com cerca de 11 milhões de sírios refugiados no exterior, ou deslocados no interior do país e sem perspectivas claras para retornar para o que foram seus lares antes da guerra, é provável que a reorganização demográfica perdure, ressaltaram os entrevistados.

Abu Mussab al-Mukasar, um rebelde de 25 anos, teme nunca mais poder voltar para sua cidade natal em Homs (centro), agora completamente sob controle das tropas do presidente Bashar al-Assad.

"Nunca poderia viver em um território conquistado pelo regime, ou conviver com os alauítas", disse ele sobre a minoria religiosa, à qual pertence o presidente Assad em um país de maioria sunita.

De confissão sunita, Abu Mussab abandonou Homs pela primeira vez em 2014 e partiu para zonas rebeldes rurais nos arredores dessa localidade.

Na semana passada, outra retirada negociada o obrigou a um novo deslocamento com sua família, desta vez para a província de Idlib (noroeste).

Idlib se tornou um abrigo para centenas de milhares de rebeldes e seus familiares, de maioria sunita, depois que seus bastiões foram recuperados pelo governo.

"A estrutura demográfica mudou sem que nos déssemos conta. O país foi dividido", lamentou Abu Mussab.

- Fluxo populacional -

"O norte é sunita, o nordeste, curdo, e os alauítas e os xiitas estão essencialmente concentrados em Latakia, Tartus e Homs", afirmou.

O especialista no conflito sírio Fabrice Balanche disse que "existe claramente uma estratégia de exclusão dos opositores políticos".

A perseguição e a expulsão do "adversário" não diz respeito, porém, apenas ao regime alauíta. Os rebeldes sírios expulsaram de suas zonas as minorias alauítas e cristãs consideradas leais a Assad, disse Balanche à AFP.

Antes da guerra, os árabes sunitas representavam 65% da população, os curdos, cerca de 15%, e todas as minorias religiosas, 20%.

Embora o regime tenha perdido terreno, o apoio dos alauítas, dos xiitas e dos cristãos lhe permitiu aproveitar uma base popular mais sólida, explicou Balanche.

"Hoje em dia, 70% da população síria vive em zonas controladas pelo regime, dos quais mais de um terço são minorias", acrescentou.

Algumas mudanças demográficas ocorreram por meio de acordos políticos entre o governo e os rebeldes.

Uma retirada cruzada iniciada em 2015 envolveu milhares de residentes de Al-Fua e Kafraya, comunidades xiitas na província de Idlib cercadas de rebeldes, e aquelas de Zabadani e Madaya, perto de Damasco, sitiadas pelo regime.

Em 2017, o presidente Assad disse à AFP que esse deslocamento era "obrigatório", mas temporário.

- Repovoar -

Os habitantes deslocados não consideram voltar para suas casas.

Abas Abas, de 36 anos, fugiu de Kafraya para se instalar em Sayeda Zeinab, um bairro perto de Damasco que abriga um santuário xiita. "Pelo menos aqui não tenho medo de ser sequestrado", afirmou.

Em outros tempos, a população xiita de Kafraya se misturava com a de outros povos, "mas depois de oito anos de guerra, as coisas são diferentes", explicou esse engenheiro de som.

No noroeste, uma ofensiva da Turquia lançada no início de janeiro alterou as fronteiras etnodemográficas. Cerca de 137.000 habitantes do enclave de Afrin, de maioria curda, fugiram de zonas controladas pelo regime, ou para a zona autônoma curda no nordeste.

Os curdos acusam a Turquia de querer mudar a composição étnica. Os analistas afirmam que Ancara busca reinstalar na zona sob seu controle os 3,5 milhões de refugiados sírios que vivem na Turquia.

A oposição síria acusa os curdos de expulsarem os árabes das cidades sob seu poder.

Diante da ausência de uma justiça transitória e do mea-culpa de uma parte e outra, a situação pode se agravar, advertiu Diana Semaan, da ONG Anistia Internacional.


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