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Estado de Minas

Bispos chilenos põem cargos à disposição do papa


postado em 19/05/2018 01:00

Os bispos chilenos puseram seus cargos à disposição do papa Francisco nesta sexta-feira (18), após os escândalos de abusos sexuais cometidos por religiosos em seu país, em um gesto inédito na história recente da Igreja Católica.

Os 34 bispos, 31 em funções, anunciaram a sua decisão em uma breve declaração à imprensa na sala Pio X de um edifício do Vaticano, a poucos metros da Basílica de São Pedro.

A declaração foi lida em nome de todos os bispos pelos porta-vozes da Conferência Episcopal do Chile, Fernando Ramos e Ignacio González, ao fim dos três dias de reuniões convocadas pelo papa no Vaticano para prestarem contas sobre os escândalos de pedofilia e seu acobertamento.

"Todos (...) colocamos nossos cargos nas mãos do Santo Padre para que ele livremente decida a respeito de cada um", anunciaram.

Francisco se dispõe a tomar medidas severas, "mudanças e resoluções", dentro da Igreja do Chile, como antecipou em uma carta entregue ao fim de três dias de reuniões no Vaticano.

Na declaração, os bispos voltaram a "pedir perdão pela dor causada às vítimas", agradeceu-lhes por "sua perseverança e coragem", apesar das dificuldades e "dos ataques da própria comunidade eclesiástica".

Entre os 34 bispos presentes estão vários dos acusados de terem acobertado durante décadas os abusos cometidos pelo padre Fernando Karadima. Ele foi suspenso de forma vitalícia, após ser declarado culpado em 2011 de abuso sexual a menores nos anos 1980 e 1990.

Após retornar ao Chile, Ricardo Ezzati, arcebispo de Santiago, expressou a "vergonha" dos bispos porque religiosos estão envolvidos nos abusos, e afirmou que a igreja chilena "precisa mudar, sabemos disto, é necessário" para enfrentar deste escândalo.

É provável que o Papa substitua pelo menos 10 religiosos para abrir uma nova era na Igreja chilena.

"Estamos no caminho, sabendo que esses dias de honesto diálogo foram um marco dentro de um processo de mudança profunda (...) por meio da qual queremos restabelecer a justiça e contribuir para a reparação do dano causado", escreveram os bispos.

Fontes religiosas asseguram que o pontífice substituirá os religiosos Juan Barros Madrid, bispo de Osorno, Horacio Valenzuela, bispo de Talca, Tomislav Koljatic, bispo de Linares e do auxiliar de Santiago, Andrés Arteaga, gravemente doente.

Os quatro se formaram à sombra do influente Karadima na igreja de El Bosque, em Santiago.

Apesar de sua renúncia, os bispos se manterão em seus postos até que o papa tome as medidas que considerar cabíveis, o que deve acontecer em breve.

"Estamos a sua total disposição para limpar o que tiver que ser feito, para assegurar protocolos que nos permitam ajudar as vítimas de uma maneira melhor", comentou nesta sexta-feira, ao voltar ao Chile, o bispo da cidade de Chillán, Carlos Pellegrín.

- Não souberam proteger as vítimas -

As vítimas de abusos sexuais celebraram a renúncia em massa.

"Não souberam proteger os mais fracos, os expuseram a abusos e depois impediram que se fizesse justiça. Por isso, merecem ir embora", tuitou José Andrés Murillo, um dos acusadores de Karadima, convidado pelo papa no final de abril ao Vaticano para falar do tema.

Outro dos denunciantes, Juan Carlos Cruz, afirmou que a decisão dos bispos chilenos "muda as coisas para sempre".

Em meio a um distanciamento crescente da Igreja Católica, muito pelas denúncias de abusos sexuais, os chilenos também exigem medidas mais profundas.

"O dano gerado por este tipo de acusação é superprofundo e, portanto, as soluções não podem ser superficiais (...) Se o papa quer reverter o dano, tem que estabelecer uma política de muito mais longa data", afirmou à AFP Felipe Vega, um professor de 31 anos.

Para a professora Magdalena Rocco, de 63 anos, "agora o ponto é o que será feito daqui para frente, ou o que será feito com as pessoas que foram educadas por eles (os sacerdotes)".

- A ata de acusação do papa -

Em um documento de dez páginas vazado para a imprensa chilena, esses bispos foram acusados por Francisco de serem coletivamente responsáveis por "graves falhas" no manejo dos casos de abuso e da consequente perda da credibilidade da Igreja Católica.

O documento detalhava pressões exercidas sobre aqueles que deviam investigar os abusos, assim como a destruição de documentos comprometedores.

A renúncia de toda a hierarquia de uma igreja local foi uma resposta sem precedentes, disseram à AFP especialistas em assuntos vaticanos.

Na ata de acusação, à qual a AFP teve acesso pelo Canal 13 da televisão chilena, o pontífice fala de "fatos criminosos" cometidos por representantes da cúpula da igreja chilena, de "escândalo", de "ir além" da remoção de pessoas para solucionar a crise.

Um dos trechos mais fortes do documento está na página 9, na qual cita o informe elaborado pelo monsenhor Charles Scicluna e pelo sacerdote espanhol Jordi Bertomeu.

"Meus enviados puderam confirmar que alguns religiosos expulsos de sua ordem - por causa da imoralidade de sua conduta e após terem minimizado a absoluta gravidade de seus fatos criminosos, atribuindo-lhes a simples fraqueza, ou falta de moral - teriam sido acolhidos em outras dioceses e até, de modo mais do que imprudente, se lhes teria confiado cargos diocesanos, ou paroquiais, que implicam um contato cotidiano e direto com menores de idade", afirmou Francisco ao descrever o método do acobertamento exercido por décadas, um dos grandes males obscuros da Igreja Católica ao encarar a pedofilia.


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