O tribunal criado para julgar crimes ocorridos durante o conflito da guerrilha desmobilizada das Farc na Colômbia deixou em suspenso nesta quinta-feira (17) a eventual extradição de Jesús Santrich, que foi líder dos insurgentes e procurado por narcotráfico nos Estados Unidos.
A Justiça Especial para a Paz (JEP) decidiu "suspender a extradição" de Santrich, uma greve de fome desde 10 de abril, por "um período probatório de dez dias", disse à imprensa Jesús Bobadilla, presidente da sala que revisa o caso.
Durante este tempo, os magistrados determinarão se Santrich cometeu delitos de narcotráfico atribuídos pelos Estados Unidos depois da assinatura do acordo de paz que levou ao desarmamento e transformação no partido das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Assinado em novembro de 2016, o pacto concede benefícios jurídicos àqueles confessem seus crimes e reparem às vítimas e prevê que nenhum líder da outrora guerrilha seja entregue aos Estados Unidos por ações ocorridas antes dessa data.
Se a JEP resolver que Santrich, acusado de conspirar para o envio de cocaína, cometeu o crime depois da assinatura do acordo, seu expediente "se remeterá às autoridades nacionais" para que decidam se aceitam o pedido de extradição, informou Bobadilla.
Entretanto, o governo colombiano assegurou em um comunicado que a JEP ainda não tem competência neste caso porque esta é ativada quando "existe uma solicitação de extradição", que "não foi formalizada às autoridades competentes".
A "competência (da JEP) se circunscreve em determinar a data da ocorrência das condutas pelas quais há uma solicitação de extradição", acrescentaram em um boletim assinado pelos ministros do Interior e de Justiça.
Santrich foi detido em 9 de abril e levado há uma semana para um abrigo da Igreja Católica em Bogotá, diante da deterioração de sua saúde.
O agora partido político FARC afirmou que as acusações contra seu ex-negociador de paz são uma "montagem jurídica", e exigiu sua libertação.
O caso tem gerado alvoroço entre os ex-combatentes e tumultuado ainda mais a implementação do acordo que terminou com um conflito de meio século.
O presidente Juan Manuel Santos, que deixará o poder em agosto, deverá decidir se concede a extradição de Santrich caso a justiça lhe retire os benefícios pelo acordo de paz.