"Carmen y Lola" foi apresentado nesta terça-feira (15) em Cannes com todos os ingredientes para triunfar: delicado e sensível, o filme da espanhola Arantxa Echevarría relata a história de duas adolescentes lésbicas que lutam para viver seu amor na fechada comunidade cigana.
A obra-prima desta cineasta foi exibida na Quinzena dos Realizadores. Mas chegar até lá foi um caminho cheio de obstáculos.
Echevarría quis contar com atrizes não profissionais ciganas, o que lhe tomou anos, e gravar no centro desta comunidade, o que fez com que fosse chamada de "endiabrada" pelas ruas.
Em uma comunidade sem tradição cinematográfica, onde a homossexualidade é um tabu e espera-se que as jovens não estudem e se casem o quanto antes, seu projeto caiu como uma bomba no bairro cigano onde foi rodada, na periferia de Madri.
- Pergunta: A ideia do filme surgiu com o primeiro casamento entre mulheres ciganas na Espanha, em 2009. Elas se apresentaram ante a imprensa ocultando sua identidade porque eram rejeitadas por sua comunidade. Por que se sentiu atraída por esta história?
- Resposta: Por ser mulher e cineasta. Tenho a capacidade de contar histórias e de ser o alto-falante de certas coisas que me parecem que não estão bem. Tenho que ser solidária com nosso gênero. Meus curtas também são assim: "Yo, presidenta" ou "De noche y de pronto", indicado ao Goya, sobre os medos femininos.
- P: Como encontrou Zaira Romero (Lola) e Rosy Rodríguez (Carmen)?
- R: Foi muito complicado.
- P: Como acha que o filme vai ser recebido no círculo das duas protagonistas?
- R: Não sei, tenho certo medo em relação à comunidade. Seus pais estão cientes, eu lhes pedi autorização e falei muito com eles. Mas é que até mesmo vê-las fumando nas gravações era terrível para os ciganos presentes no local.
- P: Depois de ser exibido em Cannes, seu filme foi comparado imediatamente com o francês "Azul é a Cor Mais Quente", Palma de Ouro de 2013, também sobre um casal de jovens lésbicas.
- R: Não tem nada a ver! Por exemplo, em "Carmen y Lola" quase não há cenas de sexo.
- P: O filme destaca a história humana, acima de qualquer mensagem ativista.
- R: Minha intenção era ser equilibrada. Os ciganos são uma comunidade minoritária oprimida pelos 'payos' (não ciganos). Queria tratar o tema com respeito e pudor, mostrar, para que o espectador fizesse suas conjeturas. Queria evitar que me tratassem como uma paya arrogante.
- P: Qual é seu segredo para ter contado uma história de forma tão delicada?
- R: Foi feito com todas as minhas lembranças do meu primeiro amor, das sensações que experimentei. Quando falavam com você e suas pernas tremiam.