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Estado de Minas

Do Líbano ao sonho americano, passando pelo FBI e pelo 11 de Setembro


postado em 11/05/2018 10:06

Para os telespectadores, é o agente do FBI que persegue a Al-Qaeda. Na vida real, Ali Soufan é, assim como tantos outros, um imigrante muçulmano que fugiu da guerra para alcançar seu sonho americano.

Nascido no Líbano, filho da brutal guerra civil desse país do Oriente Médio entre 1975 e 1990, emigrou para os Estados Unidos quando era adolescente, foi presidente de grêmio estudantil na universidade e sonhava com fazer um doutorado em Cambridge, na Inglaterra.

No meio do caminho, porém, candidatou-se a um emprego no FBI como um desafio e foi o único de seus amigos selecionados.

O único fluente em árabe do Grupo Especial Antiterrorismo do FBI em Nova York foi lançado à frente da caçada da Al-Qaeda após os bombardeios das embaixadas americanas na África Oriental, em 1998, e o bombardeio do "USS Cole" no Iêmen, em 2000.

Viajou pelo mundo investigando e interrogando suspeitos, mas a Inteligência americana não conseguiu impedir os ataques do 11 de Setembro de 2001, no qual quase 3.000 pessoas morreram nos Estados Unidos, entre eles o ex-chefe de Soufan.

Sobre os atentados de 2001, que viu pela televisão quando estava no Iêmen, comentou que "foram provavelmente o momento mais devastador da minha vida". Depois, entregaram-lhe um envelope com informação de Inteligência que vinha pedindo desde novembro de 2000. Dados que ele acredita que teriam podido, talvez, impedir os ataques.

"Não sei se irritado é a palavra. Destroçado. Não sei o sentimento. Não conheço o termo para descrevê-lo, até hoje", disse à AFP em uma recente entrevista em seu escritório em Nova York, onde uma enorme bandeira americana está pendurada na parede.

A amarga rivalidade entre a CIA e o FBI (a Polícia Federal americana), que inadvertidamente abriu caminho para o 11/9, é dissecada em "The Looming Tower", uma nova série de televisão transmitida nas plataformas Hulu e Amazon Prime, adaptada do livro "O vulto das torres", de Lawrence Wright, ganhador do Pulitzer e um sucesso de vendas.

- 'Nós contra vocês' -

Soufan é interpretado pelo ator francês Tahar Rahim - os dois se tornaram amigos -, e seu chefe do FBI, John O'Neill, por Jeff Daniels. Narra a disputa de poder entre CIA e FBI, e sua recusa a compartilhar informação de Inteligência.

Soufan, de 46 anos, está encantado que o série eduque uma nova geração sobre o 11/9, desafie os estereótipos muçulmanos e envie uma mensagem aos jovens, particularmente, aos que têm origem imigrante e podem se sentir marginalizados.

"Isso não é apenas uma série de TV. É um serviço público", diz.

"Há tantos jovens crescendo em comunidades nos Estados Unidos, em Paris, em Bruxelas, em Londres e sentindo que não se encaixam... Estamos tentando chegar a eles e lhes dizer que não deixem que o cinismo os liquide, não acreditem na Al-Qaeda e no Isis (Estado Islâmico) e em sua narrativa", acrescenta.

"Não acreditem no 'nós contra vocês'", insiste.

"Podem fazer o que é correto e apoiar seu governo, e seu governo estará lá para vocês", completa.

Na vida real, Soufan é um piadista de rara inteligência que pede desculpas por não estar de terno e gravata para as câmeras.

Mostra, contente, uma metralhadora Thompson, a primeira defesa do FBI contra a máfia nos anos 1930, hoje dada de presente aos que se aposentam da corporação.

"Agora temos coisas sofisticadas", brinca Soufan. "Sofisticadas e muito eficientes", afirma.

Soufan se opunha à tortura e deixou o FBI em 2005. Dois anos depois, fundou uma empresa de segurança que trabalha com governos de todo mundo.

- Nunca discriminado -

"Era hora", resume, ao comentar sua decisão.

"Você não tem que estar dentro para fazer do mundo um lugar melhor, e isso é o que tentamos fazer aqui", acrescentou.

O Soufan Group, que emprega funcionários aposentados da CIA e do FBI, oferece consultoria e treinamento a governos, corporações, agências policiais e de Inteligência pelo mundo.

Reconhecido especialista em segurança, Soufan considera que a principal ameaça hoje é cibernética.

Ele também tem dificuldades de imaginar um jovem muçulmano do Oriente Médio que se adapte tão facilmente nos Estados Unidos polarizado de hoje.

"Acredito que os Estados Unidos foram muito bons comigo em tantos sentidos diferentes. Inclusive quando garoto e jovem, nunca me senti discriminado", garantiu.

Defensor da imigração, entende a necessidade de tratar o tema dos imigrantes em situação ilegal, mas defende que isolar as comunidades não é a solução.

Em seu escritório, há uma foto sua com Barack Obama, mas ele nunca falou com Donald Trump.

O que ele diria, caso se encontrassem? "Acredito que o trabalho de um líder seja liderar, não confundir", responde.


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