Na cidade multiétnica de Kirkuk é difícil encontrar cartazes de candidatos curdos para as legislativas iraquianas de 12 de maio. Destacam-se os de árabes e turcomanos, hostis à secessão.
Em setembro passado, os curdos, que foram tomando progressivamente o controle da província de Kirkuk, festejavam seu referendo de independência. A alegria durou pouco porque o governo iraquiano enviou tropas no mês seguinte para restaurar sua autoridade.
Agora, árabes e turcomanos multiplicam os comícios em que deixam claro seu apego à administração central.
O distrito de Rahim Awa, onde estava a seção eleitoral que acolheu mais eleitores durante o referendo, está cheio de cartazes de candidatos árabes e turcomanos. Os dos curdos estão colados em lugares discretos.
Os curdos são refratários a falar das eleições. Freidun Rahim, um jornaleiro de 41 anos, é o único que aceita responder às perguntas.
"Votei sim no referendo, mas hoje temos que viver juntos, curdos, árabes e turcomanos. Então, vou votar", declara, sem revelar por qual lista se inclina.
- "Vingança" -
Os 940.000 inscritos na rica província petroleira de Kirkuk poderão votar em qualquer uma das 31 listas que disputam 13 vagas. No total, há 291 candidatos, dos quais 80% são novos rostos.
Nas eleições de 2014, a União Patriótica Curda (UPK), um dos dois grandes partidos históricos, conseguiu seis assentos à frente dos dois de seu rival, o Partido Democrático Curdo (PDK), fundado pelo promotor do referendo, Masud Barzani. Os turcomanos e os árabes conseguiram dois cada um. O último ficou com os cristãos.
Este ano será diferente.
O PDK pede o boicote por considerar que Kirkuk é um "território ocupado".
Muitos curdos consideram que a tomada de Kirkuk era algo justo, depois de o ex-ditador Sadam Hussein expulsá-los dali nos anos 1980 para substituí-los por árabes.
O UPK participará. Mas seus adversários curdos o consideram um traidor por ter favorecido a entrada do exército federal na província.
O deputado em fim de mandato Rebwar Taha Mustafa, de 40 anos, líder da chapa do UPK, nega. "Minha presença em Kirkuk nos momentos difíceis é a prova da minha lealdade para a cidade", diz seu cartaz. E lamenta "a vingança de alguns", referindo-se a árabes e turcomanos.
Nas ruas, as tropas federais substituíram as forças de segurança curdas e a bandeira curda nas cores verde, branca e vermelha, com um sol no centro, desapareceu.
- "Kirkuk é iraquiana" -
No lugar dela é possível ver estandartes turcomanos com uma meia lua e uma estrela. As listas árabes elegeram como lema "Kirkuk pertence a seus moradores".
A deputada turcomana Hassan Tauran está "muito satisfeita". "As próximas eleições vão demonstrar o peso real das diferentes comunidades. Havíamos advertido os curdos que a conta do referendo seria muito alta e os que acreditam em uma volta atrás estão sonhando", assegura.
Amer al Juburi, candidato da lista do premiê Haider al Abadi assente: "Kirkuk é iraquiana, quem não gostar da nova situação pode ir embora".