Washington, 09 - O Irã reagirá com cautela à decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de abandonar o acordo sobre seu programa nuclear, avaliou o professor Hooshang Amirahmadi, da Universidade Rutgers e presidente do American Iranian Council (AIC), entidade dedicada ao estudo das relações bilaterais. Em sua opinião, o naufrágio das negociações levará ao fim da presidência de Hassan Rohani e sua substituição por um governo conservador, que poderia negociar um novo pacto com os EUA. A seguir, trechos da entrevista.
Quais são as consequências da decisão de Trump?
O governo iraniano terá de decidir se fica no acordo com europeus, russos e chineses ou se o abandona. Acho que o Irã não sairá no futuro imediato e será muito cauteloso em sua reação. A segunda coisa é o que de fato acontece no Irã. Haverá muita decepção entre a população iraniana com relação ao governo de Rohani. É possível que ele seja obrigado a renunciar e seu governo entre em colapso. Ele seria substituído por um grupo mais linha dura e militarizado.
A decepção no Irã é com os EUA ou com Rohani?
Com ambos. A maioria dos iranianos acredita que o governo Rohani não fez um bom trabalho na negociação do acordo. Eles negociaram com um governo que estava no fim, não anteciparam uma mudança de governo nos EUA e não trabalharam com os conservadores em nenhum dos dois países durante as negociações. Há insatisfação com o time de negociadores e com o governo que assinou esse tratado sem avaliar suas implicações. Além disso, eles implementaram o acordo muito cedo, sem ter segurança de que o outro lado iria de fato cumprir suas promessas.
O pacto sobrevive sem os EUA?
O Irã não deixará o pacto facilmente, a menos que outras coisas ocorram. Mas a permanência ou não agora é irrelevante.
A decisão de Trump aumenta o risco de um confronto militar na região?
Não creio que neste momento os americanos sejam a favor de uma invasão ou um ataque contra o Irã. No entanto, se o Irã deixar o acordo e retomar o seu programa nuclear, essa possibilidade seria muito alta. Mas creio que o Irã será extremamente cauteloso. Se recomeçar seu programa, o país será atacado pelos israelenses, americanos ou até pelos sauditas.
Qual é a chance de um novo acordo?
Com o atual governo do Irã, zero. Porque o Estado iraniano não permitirá que as mesmas pessoas negociem com os EUA de novo. A única opção seria um novo governo iraniano semimilitar.
A economia do Irã já está em crise. O que acontecerá com o restabelecimento das sanções?
Acredito que 80% dos problemas econômicos têm a ver com má administração, não com as sanções. O governo é muito ineficiente e corrupto. Por isso, as sanções vão provocar dano e a economia continuará a escorrer pelo ralo todos os dias.
O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, saiu fortalecido com a decisão de Trump?
Sim. Ele é a favor da mudança de regime e da guerra com o Irã. Sua posição é muito clara. Quer convencer os EUA a destruir o regime, colocar outro grupo no poder e desmantelar o país. Essa é sua posição há muito tempo.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Cláudia Trevisan, correspondente).