Os paraguaios votam, neste domingo, para eleger seu próximo presidente, entre o candidato de direita Mario Abdo Benítez, proveniente de uma família vinculada à ditadura de Alfredo Stroessner e favorito nas pesquisas, e o liberal Efraín Alegre, apoiado por uma coalizão de centro-esquerda.
Os centros de votação abriram às 07H00 locais (08H00 em Brasília), em um ambiente de pouco entusiasmo e mobilizações. Não há relatos de incidentes.
"Observamos uma boa administração, e até agora tudo transcorre com tranquilidade. Vemos uma grande participação cidadã, o que nos parece importante", declarou à imprensa a chefe da missão de supervisão da União Europeia, a romena Renate Weber.
A Organização dos Estados Americanos também implementou uma missão de observação eleitoral sob a liderança da ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla.
A votação terminará às 16H00 locais (17H00 em Brasília), e espera-se que as primeiras projeções sejam divulgadas uma hora depois.
Nas primeiras quatro horas, cerca de 25% dos 4,2 milhões de eleitores haviam votado, segundo o Tribunal Eleitoral.
As eleições no país, que tem 7 milhões de habitantes, também elegerão 45 senadores, 80 deputados, 17 governadores e 18 membros do Parlamento do Mercosul.
Abdo Benítez e Alegre estiveram entre os primeiros a votar neste domingo.
"Ganhei credenciais democráticas em minha trajetória política", declarou Abdo Benítez ao rejeitar, neste domingo, as críticas que recebe devido à proximidade de sua família com Stroessner, de quem seu pai foi secretário particular durante a ditadura.
- Hegemonia colorada -
O Paraguai, que saiu de uma ditadura de 35 anos em 1989, viveu sob a hegemonia do partido Colorado durante os últimos 70 anos, com a única exceção do governo do ex-bispo e ex-presidente de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), que foi destituído em um julgamento político um ano antes de concluir seu mandato.
"No Paraguai, o partido tem uma centralidade na vida cotidiana. Durante a ditadura, a sede do partido Colorado servia um pouco como enfermaria e como agência de empregos. Nos partidos paraguaios há uma fidelidade ao candidato", explicou à AFP Magdalena López, coordenadora do Grupo de Estudos Sociais sobre o Paraguai da Universidade de Buenos Aires.
"A transição para a democracia apontou para um sujeito bastante passivo, que se limita a votar a cada cinco anos", acrescentou López.
Abdo Benítez, de 46 anos, é o favorito nas pesquisas, com até 20 pontos de vantagem sobre Alegre.
No entanto, uma pesquisa de última hora aponta um empate técnico com Alegre, caso a participação ultrapasse 70%.
E Alegre se mostrou confiante neste domingo. "Acredito que as pessoas vão ser protagonistas da mudança. Os relatos que temos são de uma participação extraordinária", disse ao comparecer à sua zona eleitoral.
"Marito", como é conhecido popularmente, propõe manter a política econômica do presidente Horacio Cartes, baseada nas exportações agrícolas, que permitiu ao Paraguai crescer a um ritmo de 4% por ano por mais de uma década.
Também pretende realizar uma reforma do Poder Judiciário, que considera corrupto.
O Paraguai está em 135º lugar entre 180 países em um ranking de corrupção elaborado pela organização Transparência Internacional.
- Pobreza e desemprego -
Alegre, um advogado de 55 anos que começou sua atividade política em oposição à ditadura, tenta pela segunda vez chegar à presidência.
Nas últimas eleições, em 2013, nas quais teve o apoio somente de seu partido Liberal, perdeu para o atual mandatário.
Mas desta vez conseguiu reeditar a coalizão com a Frente Guasú (Frente Ampla) e outros grupos de esquerda que em 2008 tinham dado a vitória a Lugo.
Alegre promete atacar a pobreza com um impulso à economia familiar camponesa, frente aos imensos desenvolvimentos agrícolas para a exportação, e com reduções da tarifa de energia elétrica para impulsionar os investimentos na indústria e gerar empregos.
Paraguai, um país rico em hidroeletricidade mas sem saída para o mar, não consegue reduzir seu índice de pobreza na mesma velocidade em que sua economia cresce.
A pobreza afeta 26,4% da população e a informalidade atinge 40% da economia, segundo os especialistas.
"O número de pobres está ligado ao fato de que não há emprego. Só 3% das empresas no Paraguai são grandes empresas. A informalidade faz com que o índice de pobreza seja alto", disse à AFP Gladys Benegas, diretora do Instituto de Pesquisas em Competitividade do Paraguai.