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Estado de Minas

Ministro diz que munição que matou Marielle foi roubada da PF


postado em 16/03/2018 21:30

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungman, assegurou nesta sexta-feira (16) que a munição que matou a vereadora Marielle Franco foi roubada anos atrás da Polícia Federal, enquanto a exigência de justiça para o crime voltou a levar centenas de pessoas às ruas do Rio de Janeiro.

Embora as investigações sobre o crime que chocou o Brasil corram em segredo de Justiça, várias versões começaram a circular nesta sexta-feira.

Segundo a TV Globo, Marielle, uma carismática ativista de 38 anos e muito crítica aos abusos da Polícia, foi morta na noite de quarta-feira atingida por projéteis de calibre 9 mm que faziam parte de um lote adquirido pela Polícia Federal em dezembro de 2006.

Pouco depois, a corporação informou em um comunicado que, em paralelo à investigação a cargo da Polícia Civil carioca, "foi instaurado inquérito no âmbito da Polícia Federal para apurar a origem das munições e as circunstâncias envolvendo as cápsulas encontradas no local do crime".

E à noite, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, assegurou que esta munição foi roubada da Polícia Federal anos atrás, na sede dos Correios da Paraíba, a mais de 2.000 km do Rio.

"Eu acredito que essas cápsulas que foram encontradas na cena do crime, este bárbaro crime, foram efetivamente roubadas", disse o ministro em Brasília.

"A Polícia Federal já abriu mais de 50 inquéritos por conta dessa munição desviada", acrescentou Jungmann, assegurando que a munição já esteve vinculada a uma chacina cometida em 2015 em São Paulo, onde policiais e guardas civis mataram 18 pessoas em bairros pobres da região metropolitana para vingar o assassinato de dois colegas.

As redes de tráfico de armas com participação de policiais, guardas penitenciários e militares foram reportadas em 2016 por uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

- Continuar nas ruas -

Ainda sem resposta sobre o que motivou o assassinato de Marielle e de Anderson Gomes, o motorista que a conduzia, o centro do Rio amanheceu nesta sexta-feira com os muros cheios de imagens da vereadora, mensagens contra a Polícia, contra o presidente Michel Temer e uma mensagem repetida em palavras de ordem e redes sociais: "Marielle Presente".

Isso, depois de dezenas de milhares de pessoas terem lotado as ruas em protestos em diferentes cidades do País, incluindo Rio e São Paulo.

Nesta noite, centenas de pessoas se reuniram com velas em frente à Alerj para pedir justiça e o fim da intervenção federal na Segurança Pública do estado, decretada há exatamente um mês pelo presidente Temer.

A maioria dos manifestantes era de jovens, que em seguida participaram de marchas por algumas ruas do centro da cidade.

"Temos que ser insistentes. Se pararmos de protestar, isto ficará impune e é muito sério o que aconteceu", disse João Marcos, estudante de Geografia de 19 anos, que veio da zona norte da cidade.

"Se tiver que vir na segunda-feira de novo, venho, porque não podemos deixar calar essa voz, ela era a voz do povo", disse Bruna Soares, cabeleireira de 32 anos, vinda da violenta Baixada Fluminense.

- Dois veículos -

O assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes ocorreu na noite de quarta-feira no centro do Rio, quando ela voltava para casa de carro após participar de um evento de empoderamento de mulheres negras na Lapa (região central) foi seguido por 4 km por outro veículo.

O ataque ocorreu no bairro do Estácio, também no centro, e foram efetuados ao menos treze disparos a dois metros de distância, segundo informações publicadas pela imprensa.

Junto com a vereadora, que levou quatro tiros na cabeça, morreu o motorista do carro, Anderson Gomes, com ao menos três disparos nas costas. Outra passageira do veículo, a assessora de imprensa de Marielle, ficou ferida com estilhaços.

Os atacantes teriam contado com o apoio de outro carro, que teria vigiado a vereadora nas proximidades do local do evento, segundo o portal de notícias G1.

Vários comentaristas asseguram que esta "execução" está ligada às denúncias da vereadora contra a ação das milícias ou a intervenção federal no Rio.

O ceticismo paira sobre as investigações, em um país com altos índices de impunidade.

"A melhor resposta que o governo tem que dar... é investigar com celeridade, rapidez e eficiência. Eu afirmo: se houver trabalho sério, sem medo de mexer em bolsões incrustados no Estado de corrupção, violência e crime, a gente apura em duas semanas isso aí", declarou nesta sexta-feira o deputado Chico Alencar, do PSOL.

- Despertar da esquerda? -

Todos os grandes jornais do Rio dedicaram nesta sexta-feira suas capas e várias páginas às manifestações de quinta-feira.

O Globo e O Dia citaram uma frase postada em suas contas nas redes sociais por Marielle Franco um dia antes de morrer: "Quantos mais precisarão morrer?".

A mensagem se referia ao jovem Matheus Melo, morto quando saía de uma igreja no Jacarezinho na segunda-feira (12), possivelmente vítima de abuso policial.

Para o jornal Folha de S. Paulo, o assassinato da vereadora "despertou um gigante adormecido", ao motivar as maiores manifestações da esquerda que até agora não conseguiu mobilizar suas bases contra as medidas de austeridade de Temer.

Os protestos se espalharam também fora do Brasil.

Em Londres, umas 50 pessoas, a maior parte brasileiras, se reuniram em frente à embaixada do Brasil, na Trafalgar Square, em ato organizado pelas ONGs The London Latinxs e Democracy Brazil-UK.

Perguntada se acha se algo vai mudar devido ao impacto da morte da brasileira, a tradutora baiana Paula Góes, de 42 anos, há 15 no Reino Unido, não se mostrou muito otimista.

"Sempre se espera [que algo mude], mas não é a primeira vez no Brasil que uma pessoa que luta pelos direitos humanos é morta, lutando por uma sociedade melhor. E nada mudou. Eu tenho um sentimento de esperança (...), mas sou pessimista sobre a situação", disse à AFP.


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