A primeira-ministra britânica, Theresa May, declarou nesta segunda-feira (12) ser "muito provável" que a Rússia esteja por trás da tentativa de assassinato de um ex-espião russo e deu a Moscou até terça-feira para que apresente explicações.
Moscou rejeitou imediatamente as acusações, chamando de "espetáculo circense no Parlamento britânico".
"É muito provável que a Rússia seja responsável pelo ato" contra Serguei Skripal e sua filha Yulia, feridos com gravidade na cidade de Salisbury com um gás neurotóxico que, segundo May, é de tipo militar e fabricado na Rússia.
Em função disso, a primeira-ministra deu até terça-feira a Moscou para que esclareça se usou a arma ou esta caiu em mãos de alguém, e para que dê explicações à Organização para a Proibição de Armas Químicas.
"Há apenas duas explicações plausíveis sobre o que aconteceu em Salisbury em 4 de março: ou foi um ato direto do Estado russo contra o nosso país, ou o governo russo perdeu o controle desse agente neurotóxico e catastroficamente prejudicial", disse May à Câmara dos Comuns.
A chefe de Estado ressaltou que a arma usada contra Skriptal, um ex-coronel russo de 66 anos que foi condenado em seu país por alta traição, e sua filha "é um agente neurotóxico de uso militar de um tipo desenvolvido pela Rússia", conhecido como "Novichok".
A primeira-ministra citou o histórico da Rússia "em cometer assassinatos organizados pelo Estado" e o fato de ver "alguns desertores como alvos legítimos" para apontar a culpa muito provável do país presidido por Vladimir Putin.
O ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, pediu ao embaixador russo em Londres que "forneça imediatamente informações completas sobre o programa Novichok à Organização para a Proibição de Armas Químicas", de acordo com May, dando-lhe um prazo limite de até terça-feira.
- "Espetáculo circense" -
As afirmações de May prometem aumentar a tensão com Moscou e foram precedidas por um aviso da embaixada russa, que aconselhou o governo a não fazer um "jogo perigoso" que coloque em risco as relações bilaterais.
"Isto é um espetáculo circense no Parlamento britânico e uma provocação", afirmou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zajarova.
O Ministério de Relações Exteriores russo acrescentou que as acusações de May tentam "desacreditar a Rússia" antes da Copa do Mundo de futebol, que acontecerá em junho e julho.
No entanto, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, concordou com as autoridades britânicas sobre a responsabilidade russa na tentativa de assassinato do ex-espião.
"Temos confiança total na investigação do Reino Unido e em sua avaliação de que a Rússia é o provável responsável do ataque com gás nervoso, que ocorreu em Salisbury na semana passada", disse Tillerson, acrescentando que "os responsáveis - tanto os que cometeram o crime quanto os que o ordenaram - devem enfrentar consequências sérias e apropriadas".
Mais cedo, a Casa Branca havia expressado sua indignação, afirmando sua solidariedade com Londres, mas se recusando a apontar eventuais responsáveis.
"O uso de um agente neurotóxico mortal contra um cidadão britânico em solo britânico é uma vergonha", declarou Sarah Sanders, porta-voz de Donald Trump, denunciando um "ataque irresponsável".
A Otan considerou "muito preocupante" o envenenamento, segundo o secretário-geral da Aliança Alântica, Jens Stoltenberg.
O ex-coronel e sua filha ainda se encontram em estado grave no hospital, juntamente com um policial que também ficou ferido ao socorre-los, mas cujo estado não é tão preocupante.
O deputado Tom Tugendhat, que preside a Comissão dos Assuntos Externos da Câmara dos Comuns, já havia indicado que o crime tinha "todos os aspectos de uma tentativa de assassinato orquestrada por um Estado".
Alguns consideraram que se a Rússia tentou, de fato, matar novamente um dos seus ex-agentes em solo britânico, a culpa seria em parte da resposta branda de Londres à morte de Alexander Litvinenko há 12 anos.
Este ex-agente dos serviços secretos russos que se tornou um feroz crítico da corrupção no Kremlin de Vladimir Putin foi morto com polônio-210 em um hotel em Londres, no que foi descrito durante a investigação como o primeiro atentado nuclear.
Litvinenko morreu em 2006 depois de três semanas agonizando e a cafeteria do hotel onde o envenenamento foi cometido acabou contaminada.
- Perigo de contaminação -
Depois de uma semana dizendo que não havia perigo para o público, as autoridades pediram aos cerca de 500 clientes que estiveram no pub e restaurante em que Skripal e sua filha beberam e comeram antes de adoecerem lavassem as roupas usadas naquele dia porque encontraram vestígios de contaminação.
Além disso, foram convidados a limpar com toalhas umedecidas ou com água e sabão todos os acessórios, objetos e carteiras, incluindo telefones celulares.
"Nós soubemos que há vestígios de contaminação com o agente neurotóxico no Mill Pub e no restaurante Zizzi de Salisbury", declarou em uma coletiva de imprensa a responsável pelo serviço de saúde londrino, Sally Davies.
Contudo, ela descartou risco à saúde dos 500 clientes que estiveram nesses locais naquele dia.