Vítimas de abuso sexual no interior da Igreja Católica prestavam depoimento nesta terça-feira (20) no Chile diante de um enviado especial do Vaticano que investiga as denúncias de encobrimento que pesam sobre o bispo Juan Barros.
Charles Scicluna, arcebispo de Malta, viajou a Santiago para se reunir com as vítimas que acusam Barros de encobrir os abusos do sacerdote Fernando Karadima e com os leigos que se opõem a sua designação como bispo da cidade de Osorno.
Scicluna é o encarregado de averiguar os crimes que a Igreja considera mais graves, como os abusos sexuais realizados pelo clero a menores de idade.
"Vim ao Chile enviado pelo papa Francisco para recolher informações úteis sobre o monsenhor Juan Barros Madrid, bispo de Osorno", disse em uma breve declaração à imprensa nos arredores da Nunciatura de Santiago, onde será realizada a maior parte das audiências.
"Quero manifestar meu agradecimento às pessoas que se declararam disponíveis para se encontrarem comigo durante os próximos dias", acrescentou o arcebispo.
Scicluna recolherá depoimentos durante quatro dias, após os quais entregará suas conclusões diretamente ao papa, que decidirá se abre, ou não, uma investigação canônica contra Barros.
"Isso é um processo de escuta, não é um tribunal, não é um auditório", esclareceu o porta-voz do Arcebispado, Jaime Coiro, acrescentando que não há um prazo para entregar as conclusões.
Coiro não informou o nome nem a quantidade de pessoas que se reunirão com Scicluna, apelando ao "direito de reserva da identidade".
José Andrés Murillo e James Hamilton, dois dos quatro denunciantes de Karadima, se encontraram na tarde desta terça com o arcebispo.
Ambos acusam Barros de encobrir os abusos sexuais reiterados cometidos por Karadima na década de 1980, enquanto frequentavam a capela de El Bosque, em um dos setores mais abastados de Santiago.
"Acho que é o momento de começar a esclarecer e tirar toda a sujeira debaixo do tapete", manifestou Hamilton, após testemunhar ante o enviado do papa.
No sábado, Scicluna recebeu em Nova York o jornalista chileno Juan Carlos Cruz, outra vítima de Karadima. "Pela primeira vez sinto que estão nos ouvindo", declarou Cruz a meios de comunicação na cidade americana.
Em 2011, o Vaticano condenou Karadima por abuso sexual a menores de idade e o relegou a "se retirar a uma vida de oração e penitência". A Justiça chilena, no entanto, declarou que as acusações contra ele haviam prescrito.