Jornal Estado de Minas

Vítima de abusos teria escrito ao papa sobre bispo chileno

Uma vítima de abuso sexual escreveu ao papa Francisco alertando sobre o bispo chileno Juan Barros, recordou nesta terça-feira uma ex-conselheira do Vaticano, o que o colocaria em contradição com suas recentes declarações.

O caso do bispo de Osorno (sul do Chile) Juan Barros, suspeito de ter acobertado os crimes de um padre pedófilo, manchou a viagem do papa ao Chile em janeiro.

No avião que o trouxe de volta a Roma, Francisco declarou que o Vaticano havia investigado Barros, sem encontrar "provas para condená-lo".

"Vocês me dizem que há vítimas, mas eu não as vi. Elas não se apresentaram a mim", argumentou na ocasião, declarando estar "convencido" da inocência do bispo.

A irlandesa Marie Collins, uma "sobrevivente" de abusos sexuais que abandonou em 2017 a comissão papal de luta contra a pedofilia, decidiu jogar lenha na fogueira, escrevendo no Twitter e contactando a imprensa.

Em 12 de abril de 2015, ela foi a Roma com uma carta de um chileno vítima de estupro, Juan Carlos Cruz, segundo confirmou nesta terça à AFP.

Marie Collins e três outros membros da comissão entregaram a carta ao cardeal americano Sean O'Malley, que "expressou sua preocupação".

"Ficamos preocupados com a nomeação do bispo Barros, sobretudo se ele foi testemunha de abusos e não identificou os fatos como abusos. Isso significa que ele não protegeu as crianças na condição de bispo", explica Collins.

O cardeal O'Malley, presidente da comissão, também faz parte de um grupo de nove cardeais que ajuda o papa a reformar o Vaticano. Ele assegurou que entregou a carta ao papa, acrescenta Collins.

Em janeiro de 2015, Francisco nomeou Juan Barros à frente da diocese de Osorno, apesar das suspeitas de ter feito silêncio sobre os crimes do padre Fernando Karadima.

Este padre foi reconhecido culpado em 2011 por um tribunal do Vaticano de ter cometido atos de pedofilia nos anos 1980 e 1990.

De acordo com Collins, ao menos três vítimas diretas de Karadima acusam Barros de ter testemunhado alguns atos. Barros nega as acusações.

O papa, ansioso por corrigir suas declarações sobre este caso, anunciou o envio ao Chile de um investigador. A decisão foi tomada "após receber algumas informações" a respeito de Barros, segundo comunicado do Vaticano.

Na segunda-feira, algumas vítimas de Karadima anunciaram em uma rádio chilena que testemunhariam no caso.

.