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Estado de Minas

Jihadistas condenados à morte se confessam na TV no Iraque


postado em 06/02/2018 10:00

"Salam Aleikum, queridos ouvintes, onde quer que vocês estejam": todas as sextas-feiras, o apresentador introduz assim as confissões dos jihadistas condenados à morte no Iraque antes de conduzi-los sob escolta para a cena de seu crime.

Em um país que foi aterrorizado pelo grupo Estado Islâmico (EI), cada programa exibe, em horário nobre, imagens - às vezes insustentáveis - dos crimes atribuídos à pessoa interrogada, algemada e vestida com uma túnica laranja, ou amarela.

"Recebo informações do Ministério do Interior, da Defesa, ou da Segurança Nacional, que os capturou. Eles escolhem o caso a ser processado. Eu peço permissão ao Ministério da Justiça para entrevistar o condenado", explica Ahmad Hassan, de 36 anos, que apresenta desde o final de 2013 "Nas garras da lei" no canal oficial Iraqiya.

O programa comemora sua 150ª edição e está longe de parar, porque mesmo que o EI "tenha perdido militarmente, sua ideologia ainda existe", afirma.

"Seus seguidores consideram os outros como infiéis e continuarão a assassinar enquanto a ideologia persistir", diz ele.

- Imagens chocantes e reconstituição -

O programa sempre começa com imagens chocantes, como a foto de cerca de 50 membros da tribo de Abu Nimr mortos em um mar de sangue. Eles foram executados pelo EI em Hit, no oeste do país.

Então, aparece um dos assassinos condenados, Mithaq Hamid Hekmet, de 41 anos, que conta o massacre em detalhes e dá os nomes dos que participaram.

Outros vídeos gravados pelo EI mostram o ataque a uma joalheria, atentados, um caminhão recheado com 750 quilos de explosivos, a execução de seis homens ajoelhados, usando túnicas laranjas, ou sequestros.

Na maioria dos episódios, os culpados vão ao local para a reconstituição dos crimes.

Um responsável pelas finanças do EI, Mohammad Hamid Omar, apelidado de Abu Hajjaj, detalha sua especialidade: a extorsão de farmácias, escolas, agências imobiliárias, postos de gasolina, médicos.

O apresentador assegura que interroga apenas pessoas já "condenadas". Para a maioria, o veredicto é a pena de morte, mas algumas pessoas recebem prisão perpétua, ou terão de passar 20 anos atrás das grades.

A maioria é iraquiana, mas também há pessoas de outros países árabes.

"Algumas das pessoas que entrevistei já foram executadas. É responsabilidade da Justiça, não minha", exime-se.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos contabilizou 106 execuções em 2017, principalmente por terrorismo. O artigo 4 da lei antiterrorista iraquiana estipula que toda pessoa que cometa, incite, planeje, financie, ou assista a atos de terrorismo será condenada à morte.

Terno bege, gravata e sapatos marrons, Ahmad Hassan assegura que os condenados participam voluntariamente de seu programa e sabem que isso não reduzirá sua pena.

- 'Por que você matou meus filhos?' -

"Se eles fazem isso, é porque têm arrependimentos, querem mostrar os atos horríveis que cometem e revelam o modo de pensar do grupo ao qual pertenciam, para dissuadir outros de cometerem o mesmo erro", justifica ele.

Mas os momentos mais pungentes são os encontros entre as mães das vítimas e os assassinos.

"Por que você matou meus dois filhos, Ahmed e Hamid? Eles eram seus amigos. Eles te prejudicaram? Por que você destruiu minha família?", pergunta a mulher, toda de preto, de frente para os três homens que baixam a cabeça. Seus dois filhos eram policiais.

Outra mãe diz a quatro prisioneiros: "Como vocês podem comer com as mãos que mataram meu filho atirando na cabeça?".

De acordo com o porta-voz do Ministério do Interior, o general Saad Maan, "as pessoas podem ver, graças a esse programa, que as forças de segurança estão fornecendo informações verdadeiras, e isso cria conexões com as pessoas".

Às organizações de direitos humanos que criticam a exibição na televisão de condenados que certamente serão executado, Ahmad Hassan afirma: "As entrevistas não desrespeitam os direitos humanos".

"Não estamos pressionando ninguém, mas estamos em uma situação de guerra, e é melhor se concentrar nos direitos das vítimas, e não nos dos terroristas", insiste.


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