Jornal Estado de Minas

Venezuela à espera de data das eleições e resultado de diálogo

O poder eleitoral da Venezuela se prepara para anunciar a data das eleições presidenciais, em meio ao suspense por uma reunião que estava prevista, mas acabou sendo suspensa, entre o governo e a oposição nesta segunda-feira (5) em Santo Domingo, onde as duas partes negociam garantias para este pleito crucial.

A reunião, prevista para esta segunda-feira em Santo Domingo, foi suspensa porque nenhuma das partes compareceu nem confirmou sua participação, anunciou um porta-voz da chancelaria dominicana.

"Estivemos prontos na República Dominicana esperando a confirmação das partes, tanto do governo como da oposição, mas não a recebemos", disse à imprensa o diretor de Comunicação da chancelaria, Hugo Beras, na noite de segunda-feira.

Beras indicou que se espera informações dos delegados do governo de Nicolás Maduro e da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) para fixar uma nova data e "poder retomar este processo".

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir ao governo, se encontra em "sessão permanente" para analisar "os cenários" do cronograma, assegurou à imprensa Tania D'Amelio, uma das reitoras do organismo.

"Uma vez concluída a discussão, apresentaremos ao país a data da próxima eleição presidencial com seu respectivo cronograma", disse D'Amelio.

No último fim de semana, o presidente Nicolás Maduro, que vai tentar ser reeleito para o período 2019-2025, assegurou que o CNE anunciará nesta segunda-feira a data das eleições, que a Assembleia Constituinte antecipou para antes de 30 de abril.

A iminência do anúncio deixou em dúvida a possibilidade de que o governo e a MUD alcancem um acordo no processo de negociação, iniciado em 1º de dezembro na República Dominicana, que busca uma saída para a grave crise política e socioeconômica do país petroleiro.

"Vamos assinar hoje e, ao mesmo tempo, vamos às eleições. Não é o que pediram todo o ano de 2016 e todo 2017? Vamos. Quem disse medo? Por que estão recuando agora?", desafiou o ministro das Comunicações, Jorge Rodríguez, principal delegado nas negociações.

No início da noite, nem a delegação do governo nem a MUD tinham viajado a Santo Domingo.

"Estamos prontos, com tinta no tinteiro, a pena pronta, estamos em condições ótimas de assinar um acordo de conveniência", acrescentou Rodríguez mais cedo.

Uma fonte próxima às negociações informou à AFP que a oposição não continuará na mesa se as eleições forem realizadas antes de 22 de abril, enquanto que o governo pretende apressar a data.

- "Não dependemos dos EUA" -

Tendo a data da votação como o ponto mais delicado das conversações, as partes mantiveram no fim de semana consultas em Caracas, para as quais chegou o ex-chefe de governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, um dos facilitadores do diálogo.

Maduro e seus funcionários afirmam que a oposição avalia não firmar acordos com o governo e se marginalizar das presidenciais para sabotá-las por supostas pressões dos Estados Unidos.

No México e na Argentina, onde esteve no fim de semana passado como parte de sua primeira visita à América Latina, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, pediu "eleições livres, justas e verificáveis" na Venezuela e advertiu que Washington avalia aplicar sanções petroleiras.

"Se quer declarar um embargo petroleiro dos Estados Unidos, q Venezuela superará qualquer ameaça e qualquer embargo", declarou Maduro, após se reunir com o secretário-geral da Opep, Mohammed Sanusi Barkindo, de visita a Caracas.

Embora a Venezuela venda aos Estados Unidos 750.000 barris de petróleo diariamente, dos 1,9 milhão de barris (mbd) que produz - o líder assegurou que seu país continuará "vendendo petróleo ao mundo". "Nós não dependemos dos Estados Unidos", manifestou.

- Correndo contra o tempo -

Maduro, herdeiro político do líder socialista Hugo Chávez (1999-2013), enfrenta uma impopularidade de 70%, segundo o instituto de pesquisas Delphos, devido à forte crise econômica do país, com uma hiperinflação projetada em 13.000% pelo FMI para 2018 - e uma grave escassez de alimentos e medicamentos.

Mas, contando com o apoio institucional, inclusive da Força Armada e da Constituinte, e uma política de entrega de subsídios e bônus - que a oposição qualifica de "clientelismo" e controle social - Maduro diz estar certo de vencer confortavelmente.

Segundo analistas, a Constituinte antecipou as eleições - que tradicionalmente são celebradas em dezembro - para aproveitar a crise de credibilidade e fortes divisões que atravessa a oposição, que a esta altura não decidiu se elegerá um candidato por consenso ou irá às primárias.

"Nós iremos (...) com oposição ou sem oposição", advertiu Maduro.

O cientista político Luis Salamanca advertiu que "o tempo urge para a oposição" e estimou que a negociação em Santo Domingo "está quase liquidada".

Para o analista Benigno Alarcón, o governo escolheu "sua própria oposição". Os principais líderes opositores, Henrique Capriles e Leopoldo López, estão inabilitados politicamente.

Além disso, a MUD foi excluída da eleição pelo poder judiciário - ao qual também acusa de governista - e vários partidos opositores não poderão participar ao não ter conseguido revalidar seu registro perante a autoridade eleitoral.

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