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Estado de Minas

Quase 6.700 rohingyas morreram no 1º mês de violência em Mianmar


postado em 14/12/2017 09:55

Pelo menos 6.700 rohingyas morreram entre o final de agosto e setembro em Mianmar, durante uma operação do Exército - aponta uma estimativa inédita publicada nesta quinta-feira (14) pela ONG Médicos sem Fronteiras (MSF).

Os números incluem apenas o primeiro mês de violência, que provocou um êxodo ainda em curso. Segundo a MSF, as pessoas que fogem "garantem ter sofrido violência nas últimas semanas".

"Os estudos mostram que pelo menos 71,7% dos óbitos se devem à violência, incluindo (violência) contra crianças de menos de cinco anos. Isso representa pelo menos 6.700 pessoas, entre elas 730 crianças", disse a MSF, que conversou com mais de 11.000 refugiados em Bangladesh para chegar a essa estimativa.

De acordo com o médico Sidney Wong, que atua na ONG, "o número de falecimentos está, provavelmente, subestimado", porque "o alcance e a natureza da violência são espantosas".

"Ouvimos pessoas que contam como morreram famílias inteiras depois que as Forças Armadas as trancaram em suas casas e as incendiaram", relata.

Segundo os dados coletados em milhares de entrevistas, 69% das vítimas morreram por disparos de bala; 9%, vítimas de queimaduras letais; e 5%, por espancamento.

"Quase cada família rohingya teve um, ou vários de seus membros assassinados", disse à AFP Mohamad Zubir, um professor rohingya há 25 anos refugiado em Bangladesh e que é líder da comunidade local.

"E, durante sua fuga, longe de seus povoados no estado de Rakain, viram as estradas e as casas cheias de mortos", acrescenta, explicando que os números da MSF são muito inferiores à realidade.

A violência em Mianmar levou cerca de 640.000 rohingyas a fugirem para Bangladesh. Esse número representa cerca de metade dessa comunidade muçulmana que vive, principalmente, em Rakain, no oeste do país.

- 'Elementos de genocídio' -

De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, em declarações no início de dezembro, há "elementos de genocídio" contra os rohingyas em Mianmar. O órgão pediu que se abra uma investigação internacional sobre o caso.

O Exército birmanês nega que esteja lançando represálias contra os civis e aponta, até agora, um balanço de menos de 400 mortos. Todos eles seriam "terroristas" rohingyas, segundo os militares.

Os confrontos de agosto começaram quando os ataques de grupos rebeldes a delegacias de polícia deflagraram a repressão das forças da ordem, que incendiaram cidades e reprimiram civis.

Os números da MSF contradizem os do Exército birmanês, que publicou, em meados de novembro, suas conclusões de uma investigação interna.

"Os soldados não cometeram agressões sexuais, nem mataram civis. Não prenderam, não agrediram, nem mataram habitantes dos povoados", declara o informe, que diz ter-se baseado em 2.800 depoimentos de muçulmanos, coletados em condições de independência que não puderam ser verificadas.

O Exército confirmou somente ter atirado contra um grupo de rohingyas, após ataque a soldados, alegando que se tratou de legítima defesa.

Os rohingyas são o maior povo apátrida do mundo desde que, em 1982, Mianmar, então sob regime militar, retirou sua nacionalidade.

Vítimas da discriminação, não têm documentos de identidade, não podem viajar, nem se casar sem autorização, e tampouco têm acesso ao mercado de trabalho, ou a serviços públicos, como escolas e hospitais.

Segundo a Anistia Internacional, é praticamente uma situação de "Apartheid".

Nessas circunstâncias, a MSF considera que o recente acordo entre os governos de Bangladesh e de Mianmar sobre a repatriação dos rohingyas que fugiram da violência "é prematuro".

"Nada garante que os rohingyas não se verão, de novo, submetidos à violência e a graves violações de seus direitos, se forem devolvidos para Mianmar", advertiu a MSF.


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