Mais debilitada que nunca, a Organização Mundial do Comércio (OMC) se reúne a partir deste domingo, em Buenos Aires, minada pelas potencias econômicas e rachada pelo protecionismo comercial.
Ministros dos 164 países da OMC vão realizar, até quarta-feira, sua reunião bianual, que será a primeira desde que o presidente Donald Trump chegou à Casa Branca e transformou a entidade em um de seus alvos preferidos, por considerá-la nefasta para os interesses de seu país.
O fatalismo precede as deliberações e as expectativas de resultados são muito modestas.
"Há muitos assuntos sobre a mesa e não há convergências. Pode ser que aconteça em alguns temas. Não sei, disse o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC.
"Há vida depois de Buenos Aires", disse Susana Malcorra, presidente da conferência, ao dar a entender que, no máximo será aberto o caminho para novas discussões.
Os especialistas concordam. Eles dizem que a OMC não pode superar a letargia de quase dez anos após a Rodada de Doha.
"A Rodada de Doha foi aberta em 2001. Foi há 16 anos e não está avançando. Trump não está auxiliando a OMC. A organização está perdendo terreno", disse Philippe Chalmin, professor da Universidade Paris Dauphine.
Embora não estejam previstos acordos de grande porte, poderia ser feito um acerca da pesca ilegal, que é um problema ambiental.
- China vs EUA -
A analista Valentina Delich, em um relatório da Fundação Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), descreveu o cenário global. "Há um declínio dos Estados Unidos, a crise europeia, a emergência da China e da Índia, as migrações em massa, a violência e a incerteza".
Os Estados Unidos de Trump e a Grã-Bretanha de Theresa May estão inclinados a "acordos bilaterais e mega-acordos", acrescentou Delich. Trump se baseia no princípio "América First". Isso prejudica o multilateralismo e o papel de resolução de disputas da OMC.
A China entrou na OMC em 2001 e ainda não conseguiu o status de economia de mercado. Os Estados Unidos se opõem.
"Exercitar o protecionismo comercial é como matar a sede com veneno", disse Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês.
- Mercosul e europeus -
No entanto, alguns participantes vão chegar a Buenos Aires animados por um espírito multilateralista, que contrasta com o dos Estados Unidos, que hoje prefere acordos individuais.
Na sexta-feira, a União Europeia (UE) e o Japão concluíram um acordo de livre-comércio que negociaram por quatro anos.
Além disso, a UE e o Mercosul tentaram avançar, em Bruxelas, com um acordo comercial que está em negociação há 20 anos.
A comissária europeia para o Comércio, Cecilia Malmström, estimou que este acordo poderia ser alcançado até o final do ano ou no início de 2018.
Por ora, esperam-se apenas documentos de tom político. Há diferenças acerca de reconhecimento de patentes, compras governamentais, agropecuária, etanol e outros setores.