Uma neblina sufocante e espessa que representa um risco de saúde pública para milhões de pessoas tomou conta do norte do subcontinente indiano, de Nova Délhi, onde os níveis de poluição atingem 40 vezes o limite considerado seguro pela OMS, até Lahore, no Paquistão.
Esta atmosfera irrespirável é resultado de uma combinação de superfícies agrícolas queimadas e emissões urbanas.
A isso se somam condições meteorológicas desfavoráveis - ventos fracos, chegada do frio, umidade - que impedem a dispersão dos poluentes e auguram um resto de semana sufocante.
Nesta quarta-feira à tarde, uma névoa opaca atrapalhou a mobilidade urbana de Nova Délhi. O ar era pesado para respirar, com uma toxicidade equivalente à de dois maços de cigarros por dia, de acordo com especialistas.
Diante da emergência, todas as escolas de Nova Délhi fecharam suas portas até domingo, anunciou o governo da capital indiana.
"A deterioração da qualidade do ar em Nova Délhi não pode colocar em risco a saúde das crianças. Ordenamos o fechamento de todas as escolas de Nova Délhi até domingo", anunciou no Twitter Manis Sisodia, vice-ministro chefe da região.
A decisão é uma ampliação do fechamento das escolas do ensino básico anunciado na terça-feira.
Nas ruas desta megalópole de cerca de 20 milhões de habitantes, alguns pedestres se protegiam, em vão, do ar tóxico com panos amarrados em volta do rosto.
A poluição chegava até mesmo ao moderno metrô subterrâneo da capital, cujas galerias estavam carregadas de fumaça.
"Quando saí para o trabalho, às quatro da manhã, não via quase nada" declarou à AFP Jeevanand Joshi, um vendedor ambulante de chá. "Não é neblina, é fumaça, e isso vai deixar todos nós doentes".
Situações extremas como a enfrentada pela megalópole indiana provocam questionamentos sobre a sustentabilidade da maneira de viver em zonas tão populosas no momento em que a marca humana no clima está no centro da COP23, que acontece atualmente na Alemanha.
- Líder mundial em poluição -
Às 13H00 locais (5H30 de Brasília), os medidores espalhados pela cidade mostravam níveis perigosos de partículas ultrafinas (PM2,5), entre 400 e 700 microgramas por metro cúbico (?g/m3).
De acordo com medições da embaixada dos Estados Unidos, os níveis de PM2,5 chegaram a mais de 1.000 ?g/m3 na capital indiana na quarta-feira, 40 vezes acima do limite considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda não superar 25 ?g/m3 de média em 24 horas.
Os episódios de poluição são recorrentes no outono e inverno em Nova Délhi, que a OMS classificou em 2014 como a cidade mais poluída do mundo.
"Atualmente, a situação é imprópria para a habitação humana", alertou o médico Arvind Kumar, do Hospital Sri Ganga Ram de Nova Délhi.
Tais "níveis de toxinas afetam o seu cérebro, seu coração, seus pulmões, cada parte do seu corpo, e causam danos irreparáveis", acrescentou.
A segunda maior cidade do Paquistão, Lahore, estava também envolvida por uma névoa poluída, provocando maciças hospitalizações, cancelamentos de voos e mudanças de horários nas escolas.
No hospital Mayo, um dos maiores de Lahore, os pacientes aguardavam seus tratamentos, sentados em macas. Vários sexagenários respiravam com máscaras de oxigênio, constatou a AFP.
O número de pacientes "quadruplicou" devido aos "problemas oculares, infecções respiratórias e asma" causados por essa neblina de cor marrom, segundo o médico Irshad Hussain.