Com elas se pretende "restaurar a ordem constitucional", nas palavras de um governo que pretende encerrar a crise institucional mais grave de sua história democrática iniciada após a morte do ditador Francisco Franco em 1975.
Faltando poucas horas para o anúncio das medidas, os máximos dirigentes do país elevaram o tom: o rei Felipe VI denunciou "uma inaceitável tentativa de secessão" e o chefe de governo, Mariano Rajoy, afirmou que chegou-se "a uma situação limite".
No mesmo ato em que o monarca se pronunciou em Oviedo (norte) para a entrega do prêmio Princesa das Astúrias, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, reiterou veladamente a oposição do bloco a uma secessão unilateral da Catalunha, ao atacar aqueles que "semeiam a discórdia ignorando voluntariamente as leis".
A equipe de Rajoy negocia há dias com os socialistas, a principal força opositora, a aplicação do artigo 155 da Constituição. Este permite intervir total ou parcialmente nas competências de uma região para obrigá-la ao "cumprimento forçado" da legalidade.
Neste contexto, Madri deve assumir o controle da polícia regional catalã, os Mossos d'Esquadra, cujo comandante é suspeito de sedição por não ter impedido a realização do referendo de autodeterminação proibido de 1º de outubro.
A suspensão das competências, no entanto, é uma jogada muito arriscada em uma Catalunha orgulhosa de seu governo autônomo, que é responsável pela gestão de serviços importantes, como a Saúde e a Educação, e tem uma polícia própria.
O presidente catalão Carles Puigdemont ameaçou que, se o artigo 155 for aplicado, o Parlamento regional poderia unilateralmente proclamar a independência, apoiando-se no referendo realizado em 1º de outubro.
- Eleições regionais? -
O governo central está tomando seu tempo, e na sexta-feira enviou a Puigdemont a mensagem de que ainda pode recuar.
"Até a reunião plenária (do Senado), Puigdemont pode retificar e retornar à legalidade constitucional", afirmou à rádio Cadena SER o nº3 do PP, Fernando Martinez-Maíllo.
"Enquanto não proclamar formalmente a independência e retroceder em seus planos secessionistas, há margem", insistiu.
Como via de saída para a crise, uma opção que está ganhando peso é a de eleições antecipadas na Catalunha, como defendeu o porta-voz do governo espanhol, Íñigo Méndez de Vigo.
"A lógica desse processo levará a eleições legalmente convocadas", disse ele.
As últimas eleições regionais catalãs ocorreram em 27 de setembro de 2015 e foram vencidas pelos partidos separatistas, divididos entre a atual coalizão governamental Juntos por el Sí e o partido anticapitalista CUP.
A questão é saber como tais eleições regionais poderiam ser realizadas, já que cade ao seu presidente convocá-las.
O governo de Rajoy já afirmou a Puigdemont que se ele convocar eleições antecipadas o processo de intervenção será interrompido.
Em todo caso, Puigdemont é pressionado por Madri e pelos círculos empresariais, que pedem que dê passo atrás, e igualmente pela ala dura dos separatistas, que exige a proclamação imediata da República da Catalunha para fortalecer sua posição.
Nas últimas três semanas e ante a incerteza dominante, 1.200 empresas iniciaram trâmites para tirar sua sede social da Catalunha, segundo o Colégio de Registradores.
Nas ruas, a mobilização dos independentistas segue firme. Neste sábado às 17h00 (14h00 de Brasília) está prevista uma manifestação no centro de Barcelona para exigir liberdade aos líderes das organizações separatistas Omnium Cultural e Asamblea Nacional Catalana (ANC), Jordi Cuixart e Jordi Sánchez, presos esta semana por sedição.