O presidente do Irã, Hassan Rohani, advertiu nesta quarta-feira ante a Assembleia Geral da ONU que seu país reagirá com determinação a qualquer violação do acordo nuclear assinado com vários países em 2015, em um novo capítulo da escalada de tensões com os Estados Unidos.
O dirigente destacou que o acordo pertence à comunidade internacional e não a um ou dois países e que se os Estados Unidos decidirem violá-la, acabarão "destruindo sua credibilidade".
Esse entendimento, acrescentou, foi apoiado pela comunidade internacional e pelo Conselho de Segurança da ONU, mediante a resolução 2231.
Em tom calmo, mas firme, Rohani insistiu que o governo de Teerã respeita rigorosamente os compromissos assumidos pelo acordo. "Não enganamos ninguém, não somos desonestos".
A continuidade desses histórico acordo, elaborado para impedir o Irã de se dotar de arma atômica, se tornou um dos temas centrais da 72ª Assembleia Geral da ONU.
Rohani afirmou que seu país não será "o primeiro" a violar o acordo, "mas responderá com determinação sua violação por qualquer das partes".
"Será uma grande lástima que este acordo for destruído por párias recém-chegados ao mundo da política. O mundo perderia uma grande oportunidade", ressaltou o líder iraniano, lembrando que o acordo "é o resultado de dois anos de intensas negociações multilaterais".
Concluído em 14 de julho de 2015 em Viena após mais de uma década de negociações, o acordo entre Teerã e seis potências mundiais (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) garante a natureza civil do programa nuclear iraniano em troca do levantamento de sanções que sufocam a economia iraniana.
Centro das atenções
A 72ª Assembleia Geral da ONU iniciou na terça-feira sua maratona de discursos e reuniões sob a sombra de um possível conflito nuclear na Coreia do Norte, mas a sobrevivência do acordo com o Irã logo ocupou o centro das atenções.
Na terça, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou em seu discurso uma retórica de elevada voltagem belicista, ameaçando destruir a Coreia do Norte e afirmando que o acordo iraniano era uma vergonha para Washington.
Em resposta, Rohani criticou "a retórica ignorante, absurda e odiosa, cheia de alegações ridículas e sem fundamentos, que foi utilizada neste recinto" na terça.
Altos funcionários do governo americano - como o secretário de Estado Rex Tillerson e a embaixadora ante a ONU, Nikki Haley - já deixaram claro que são favoráveis a uma rediscussão dos termos desse acordo.
Tillerson está reunido com o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, em uma sala da ONU para avaliar, junto com os outros cinco signatários do acordo, o futuro do tratado.
Em Washington, Trump disse a jornalistas que havia chegado a uma decisão sobre a questão do acordo com o Irã, mas não deu detalhes. "Eu decidi", afirmou o presidente, sem revelar sua decisão. "Vou avisar qual é a decisão", acrescentou.
Trump já aliviou sanções contra Teerã como parte do acordo e não se espera que declare que o Irã violou o pacto assinado durante a administração de Barack Obama para reduzir o enriquecimento de urânio.
Mas, ainda sim, ele pode recusar uma nova certificação do acordo em 15 de outubro, uma decisão fortemente discutida no Executivo americano.
- Em defesa do acordo -
Neste contexto, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu nesta quarta a manutenção do acordo nuclear iraniano, mas ampliado com medidas para restringir o desenvolvimento de mísseis balísticos e prolongar os limites do enriquecimento de urânio.
"Temos que manter o acordo de 2015 porque é um bom acordo com um controle rigoroso da situação atual, e temos que adicionar dois ou três pilares", disse Macron a jornalistas.
Entre esses "pilares", Macron mencionou um para melhor controlar os mísseis balísticos e outro para estender o acordo além de 2025, quando as limitações ao enriquecimento nuclear do Irã começam a expirar.
Um possível terceiro pilar envolveria "discussões abertas com o Irã sobre a situação atual na região".
As medidas citadas por Macron cobrem as principais demandas do presidente americano Donald Trump.
Espera-se que os demais países signatários do acordo nuclear com o Irã se pronunciem a este respeito em seus discursos na ONU.