Jornal Estado de Minas

Governo Maduro e oposição venezuelana tentam diálogo Santo Domingo

Delegados do governo e da oposição na Venezuela participaram nesta quarta-feira, na República Dominicana, de reuniões exploratórias para um diálogo que ajude a resolver a grave crise política venezuelana.

No final do dia, o presidente dominicano, Danilo Medina, deu uma rápida entrevista para revelar que há "um processo de construção, de formação de uma agenda que leve a uma negociação definitiva sobre a crise".

Medina acrescentou que os "trabalhos" serão retomados nesta quinta-feira, às 09H00 local (10H00 Brasília).

"Só podemos dizer que esta noite escutamos as partes, se expressaram, disseram seus pontos de vista sobre a situação que vive a Venezuela (...). Há muita disposição para se chegar a algum tipo de negociação".

Caracas enviou o dirigente chavista Jorge Rodríguez, acompanhado de sua irmã, Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia Constituinte, que dirige a Venezuela com poderes absolutos, e o experiente diplomata Roy Chaderton.

Os delegados do governo do presidente Nicolás Maduro foram recebidos pelo ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e pelo chanceler dominicano, Miguel Vargas.

Medina não precisou se houve encontro direto entre o pessoal de Maduro e os delegados da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

A oposição enviou Julio Borges - presidente do Parlamento, de maioria opositora -, os deputados Luis Florido e Eudoro González, o dirigente Timoteo Zambrano, o especialista em resolução de conflitos Gustavo Velásquez, e o ex-reitor do poder eleitoral Vicente Díaz.

- Diálogo com condições -

Após protestos contra Maduro, que deixaram 125 mortos entre abril e julho, as partes aceitaram o convite de Medina e Rodríguez Zapatero a explorar um diálogo.

Mas Borges advertiu nesta quarta que um diálogo formal apenas será possível se Maduro cumprir as exigências apresentadas pelas MUD e se houver acompanhamento internacional.

"Reitero à Venezuela e ao mundo que hoje não há diálogo e não haverá até que sejam cumpridas as condições expressas", tuitou o deputado.

Entre essas solicitações enumerou um "cronograma eleitoral" que inclua as presidenciais no final de 2018, a libertação de 590 "presos políticos", o "respeito" ao Legislativo e a retirada de sanções que impedem opositores de se candidatar a cargos de escolha popular, entre eles o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.

Maduro disse esperar que a MUD "cumpra com a sua palavra ante a comunidade internacional de avançar na busca de soluções pacíficas".

O presidente enfrenta uma forte pressão internacional por denúncias de violações dos direitos humanos na contenção das manifestações, e por conta da Constituinte chavista que assumiu as funções do Legislativo.

- "O Vaticano deve estar" -

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou na terça-feira o seu "pleno apoio" à iniciativa, destacando que a Venezuela requer uma "solução política baseada no diálogo".

O deputado opositor Henry Ramos Allup assegurou em Caracas que Guterres quer montar um grupo de países que "garantam a celebração de um diálogo e o cumprimento dos resultados".

Ramos Allup detalhou que a proposta, que assegurou não ter se concretizado, é que cada parte escolha dois países e que Guterres seja o "juiz ou avalista definitivo".

O papa Francisco disse na segunda-feira que a ONU devia "se fazer ser ouvida para ajudar" a resolver a crise venezuelana, destacando a sua preocupação pelo "problema humanitário" derivado da escassez de alimentos e remédios.

"Falei com pessoas, também de forma privada, e muitas vezes durante o Angelus (oração), buscando uma saída, oferecendo ajuda para sair. Parece que a questão é muito difícil", afirmou o papa depois de sua visita à Colômbia.

O Vaticano impulsionou um diálogo no final de 2016, que fracassou em meio a acusações mútuas de incumprimento dos acordos.

- "Explorar condições" -

A MUD enfatizou que a reunião com Medina será para "explorar" condições de negociação, e reiterou que isso passa por atender com urgência a crise socioeconômica, agravada por uma inflação que, segundo o FMI, superará os 720% este ano.

O convite de Medina e Rodríguez Zapatero foi saudado pelos governos de França e Espanha, críticos de Maduro.

Madri desconhece a Constituinte, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, chamou o seu contraparte venezuelano de "ditador", assim como os Estados Unidos, que impuseram sanções financeiras a Caracas.

"Não é suficiente que o governo venezuelano expresse o seu desejo de manter um diálogo com a oposição", afirmou o ministro espanhol das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, após se reunir nesta quarta em Madri com seu homólogo venezuelano, Jorge Arreaza.

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