O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta nesta terça-feira (12), em plena queda de popularidade, o primeiro dia de manifestações contra sua reforma trabalhista, um teste para sua capacidade de transformar a segunda maior economia europeia.
Milhares de pessoas começaram a sair às ruas em toda a França contra o projeto que pretende flexibilizar o mercado de trabalho, fundamental no programa de governo de Macron.
Também foram registradas greves no funcionalismo público, na empresa ferroviária pública (SNCF) e no setor aéreo, onde a companhia de baixo custo Ryanair cancelou 110 voos.
Apesar da pressão nas ruas, o jovem presidente de 39 anos não tem a intenção de recuar na reforma, uma de suas promessas de campanha.
Em um discurso na última sexta-feira (8), ele reiterou sua "determinação absoluta" e advertiu que não cederá nada aos "preguiçosos, cínicos, ou extremistas".
Palavras que podem ser usadas contra o presidente. "Imbecis, cínicos, preguiçosos... Todos às ruas!", respondeu imediatamente no Twitter o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que se tornou o principal opositor de Macron.
"Terminará por ceder. Este país não quer um mundo liberal (...) Estamos na França, não no Reino Unido", declarou o líder do partido França Insubmissa, em Marselha.
Para Bruno Cautrès, do centro de estudos políticos Cevipof, Emmanuel Macron "está jogando lenha na fogueira" e pode agravar o cenário.
Primeiro grande desafio de seu mandato, a reforma trabalhista de Macron pretende reforçar o papel negociador das empresas sobre as condições de trabalho e limitar as indenizações por demissão sem justa causa.
A meta de Macron é dar mais flexibilidade às empresas para estimular as contratações e frear o desemprego, que afeta 9,5% da população ativa na França, contra a média de 7,8% na Europa.
Também pretende ganhar a confiança dos sócios europeus, que exigem há vários anos reformas estruturais na França.
Para impor as mudanças, Macron optou pelo método acelerado de decretos, com o objetivo de evitar um longo processo de debate legislativo.
Os cinco decretos serão apresentados ao Parlamento para sua aprovação até o fim de 2017. A Câmara dos Deputados, onde Macron tem ampla maioria, não pode apresentar emendas a seu conteúdo: pode apenas aprovar, ou rejeitar, o texto.
A terça-feira também é um teste para os sindicatos franceses em um cenário de divisão sobre a linha a adotar em relação ao governo.
Apenas um ano depois da frente comum formada contra a reforma trabalhista do ex-presidente socialista François Hollande, dois dos principais sindicatos franceses, FO e CFDT, não apoiaram a convocação de greve da CGT.
Ainda assim, as três centrais consideram que a reforma dá todos os poderes às empresas e corta os direitos dos trabalhadores.
A reforma trabalhista é uma parte fundamental da agenda de Macron e o primeiro passo para uma revisão mais ampla do modelo social da França.