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Estado de Minas

O difícil panorama da oposição venezuelana depois da Constituinte


postado em 31/07/2017 15:25

A oposição venezuelana falhou em sua tentativa de evitar - com duros protestos que deixaram 125 mortos - a eleição da Assembleia Constituinte do presidente Nicolás Maduro. Como ficará agora a sua liderança e capacidade de manobra? O que fazer daqui para frente?

Alguns analistas acreditam que apesar do revés opositor, o derrotado é o governo, pois a Constituinte "nasceu ferida", com um grande repúdio internacional, sem legitimidade.

Outros, no entanto, consideram que o passo à frente de Maduro em meio a uma crise política e econômica é outra evidência do "fracasso da liderança política" da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

- Feridas -

O cientista político Luis Salamanca acredita que a liderança opositora não sairá prejudicada. Pelo contrário, prevê que o governo é que será afetado.

"O governo lançou uma operação sem legitimidade, sem a participação do eleitorado majoritário, a Constituinte nasceu ferida. Mas Maduro não se importa, só quer uma Constituinte a sua medida", disse o analista à AFP.

O consultor eleitoral Oswaldo Ramírez concorda que os quatro meses de protestos fortaleceram a oposição.

"Houve uma baixa participação de acordo com fontes internas que deram dados à MUD, somado a um registro visual nos centros [de votação]. Isso reflete o sentimento de mudança visto nas pesquisas: 85% do país rechaça o governo", indicou à AFP.

Ramírez também destacou que "frear a Constituinte era apenas uma parte da luta opositora. O seu objetivo central é a restituição do fio constitucional".

"Diante do que aconteceu, estou muito otimista. A de ontem foi a pior derrota sofrida pelo governo. Para mim é o início da mudança. A Constituinte foi outro obstáculo, não a razão da luta, que continua", expressou o líder opositor, Henrique Capriles.

Entretanto, nem todos acreditam que a MUD saiu contente.

"Fica onde sempre esteve: como uma liderança política que não foi bem-sucedida, que não conseguiu concretizar o seu objetivo, que foi de Chávez a Maduro. É uma liderança política fracassada", disse à AFP o cientista político Nícmer Evans, de linha chavista, mas crítico a Maduro.

Para ele, embora a MUD tenha captado o descontentamento da maioria, "não conseguiu transformá-lo em uma ação política concreta".

- Anular ou deslegitimar? -

Segundo Salamanca, a oposição não poderia parar a Constituinte. "Precisava de mais do que um repertório democrático: apenas um pronunciamento militar poderia detê-la", afirmou.

Diante da dificuldade de freá-la, o analista Félix Seijas considera que a MUD deveria impulsionar com mais força a necessidade de deslegitimar o processo, ao invés de focar a atenção em anulá-lo.

"Tem que se concentrar mais no fato de que nasceu ferida. Terá que esperar e ver se as pessoas interpretam que foi assim. O rechaço de vários países ao processo irão demonstrar", continuou.

Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, disse à AFP que alguns setores da oposição "estarão desmoralizados" após a eleição e, por isso, o maior desafio de sua direção "será manter as manifestações".

"Devem assegurar que serão pacíficas e ordenadas. Se forem violentas, Maduro terá uma vantagem política", acrescentou.

- O que fazer? -

Salamanca acredita que o conflito aumentará porque "as pessoas estão eufóricas".

"Virá a fase mais dura do confronto político. Maduro quer um novo modelo político isento de controle popular para manter o controle do poder. A Venezuela será um campo de batalha", disse.

Phil Gunson, analista do Andes Project especializado na Venezuela, adverte que a oposição deve se preparar para uma nova fase de luta, "incluindo ter que ir parcialmente para a clandestinidade".

"Mas antes deve fazer uma defesa pública das instituições legítimas [...]. Deve falar com uma só voz, manter e fortalecer os seus contatos com a comunidade internacional", assinalou.

Para ele, a oposição não deve fechar as portas para uma eventual negociação com o governo.

Evans concorda que a MUD deve se abrir a outros setores que se opõem ao governo.

"Deve entender que sozinha não consegue, e isso tem que ser compreendido por todos. Entramos em uma neoditadura do século XXI", lançou.


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