A antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se apresentará em 1º de setembro como um partido legal, ponto fundamental do acordo de paz da Colômbia após o seu desarme, anunciaram os seus comandantes.
"Chegamos à paz para participar da política", declarou o chefe negociador das Farc, Iván Márquez, ao anunciar o lançamento do movimento nesta segunda-feira em coletiva.
As Farc definirão o seu alinhamento político, nome e candidatos em um congresso no fim de agosto.
"Em 1º de setembro, o que vamos fazer é o lançamento público do partido na Praça de Bolívar", centro político de Bogotá, disse à AFP o comandante Carlos Antonio Lozada.
As Farc estão projetando o que será "esse grande ato político-cultural" daquela que foi a principal e mais antiga guerrilha do continente, acrescentou Lozada, cujo nome de batismo é Julián Gallo.
"Estamos abertos ao diálogo com todas as forças e os movimentos políticos do país", assegurou a ex-guerrilheira Erika Montero, que adiantou que o coletivo terá um caráter "antipatriarcal" e "anti-imperialista", focando no gênero, nos jovens, e nas questões agrária e urbana.
A antiga guerrilha não descarta manter a sigla Farc, embora mude o nome para este novo movimento político.
Cada ex-guerrilheiro definirá se participa da política com o nome de guerra ou com o nome de batismo.
"O partido político das Farc pode ser um passo para a abertura do sistema político na Colômbia", disse à AFP Marc Chernick, professor das universidades de Georgetown (Washington) e Los Andes (Bogotá).
Para o cientista político, as Farc buscarão consolidar um partido político de esquerda, mas não necessariamente marxista.
As Farc têm um alto índice de desaprovação, que em maio chegava a 82%, segundo um estudo da empresa Gallup.
Segundo o acordo, a antiga guerrilha terá um mínimo de 10 cadeiras no Congresso durante oito anos.
No entanto, um dos principais medos das Farc com sua passagem à vida legal é a possibilidade de que seus líderes sejam vítimas da violência política, similar ao extermínio de 3.000 simpatizantes, militantes e dirigentes da União Patriótica (UP, de esquerda), assassinados nos anos 1980 e 1990 por grupos paramilitares junto com forças estatais.
"É o momento da Colômbia se afastar da época triste da UP", disse Márquez nesta segunda-feira.
O lançamento do partido político será realizado poucos dias antes da visita do papa Francisco à Colômbia, de 6 a 11 de setembro.