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Estado de Minas

Interrogatório de Lula aprofunda polarização no Brasil


postado em 11/05/2017 16:01

O longo interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro, na quarta-feira, em Curitiba, polarizou ainda mais as posições sobre a responsabilidade do ex-presidente brasileiro no maior escândalo de corrupção do Brasil, avaliam analistas.

Culpado ou inocente? Vítima de uma perseguição política ou artífice da rede de propinas pagas por empreiteiras a políticos para obter contratos na Petrobras? Quase não há posições intermediárias sobre Lula e as cinco acusações judiciais que pesam contra ele.

"Não acho que a declaração e as imagens divulgadas tenham sido em si benéficas ou prejudiciais [para Lula]. Estão servindo mais que nada para atiçar a polarização da sociedade brasileira", avaliou o doutor em ciência política Nuno Coimbra, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).

Coimbra afirma que há uma "disputa de narrativas" sobre o papel do cofundador do Partido dos Trabalhadores (PT) no escândalo.

Uma visão segundo a qual "existe uma perseguição política para impedir que Lula seja candidato em 2018".

Por outro, há quem diga que "todo esse esquema de corrupção (...) que a Lava Jato está revelando tem como um de seus principais responsáveis o PT e Lula" porque estiveram no poder nos últimos treze anos, de 2003 a 2016.

Críticas a Lula

No processo em questão, Moro busca determinar se o ex-presidente Lula (2003-2010) é proprietário de um tríplex no balneário do Guarujá, em São Paulo, que teria recebido da empreiteira OAS em troca de "vantagens indevidas".

Lula alega que o apartamento não lhe pertence, embora sua esposa, Marisa Letícia, falecida em fevereiro, possa ter manifestado algum interesse no mesmo.

Estas declarações abriram-lhe o flanco a críticas na imprensa e nas ruas.

Os principais jornais do país - denunciados por Lula durante o interrogatório como parte de uma "caçada" lançada contra ele - apontaram nesta quinta-feira que Lula tentou responsabilizar sua mulher e muitos ironizaram seu argumento de que "ninguém sabia" da corrupção na Petrobras antes de o escândalo vir à tona, em 2014.

Uma opinião compartilhada em Curitiba, "capital da Operação Lava Jato", que já levou à prisão dezenas de empresários e políticos de influência variada.

"Nas perguntas que o juiz fez, quando devia falar, deu uma de dissimulado. Foi orientado por seus advogados e jogou a culpa em boa parte do interrogatório em sua mulher falecida, de uma forma imoral", avaliou Mauricio Puchalski, comerciante curitibano de 61 anos.

O caso, conhecido como o "apartamento do Guarujá", é uma das cinco acusações que pesam até o momento contra Lula por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução da justiça.

Críticas a Moro

"Se cometi um crime, prove que cometi um crime. Apresente à sociedade e o Lula será punido como qualquer cidadão é punido. Mas pelo amor de Deus, apresentem uma prova! Chega de diz-que-diz", exclamou o ex-presidente nos momentos finais da audiência.

A defesa de Lula alega que Moro esconde "intenções políticas" e que o processo visa a deixar seu cliente fora das eleições de 2018.

"Não foi um interrogatório normal, não só pelo caráter político das perguntas formuladas, mas também por diversos pronunciamentos do juiz ao longo da audiência que mostraram que claramente é uma pessoa que prejulga o ex-presidente Lula", avaliou nesta quinta-feira, em entrevista à AFP, Cristiano Zanin Martins, um dos advogados de Lula.

Para Thiago Bottino, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas, a audiência não deveria ser avaliada como um confronto entre o juiz e o réu, tal como foi divulgado na imprensa brasileira na véspera do encontro.

"O interrogatório é o último ato do processo e não um embate entre o juiz e o acusado, onde o juiz tenta fazê-lo cair em alguma contradição", explica Bottino.

Perguntado se Lula pode ser prejudicado por suas declarações, Bottino avaliou:

"Não vi nenhum momento em que Lula se autoincrimine... Não era a expectativa. Se isto ocorresse, seria por causa dessa postura inadequada do juiz", conclui.


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