Em junho do ano passado, por meio de uma consulta pública, 52% dos eleitores votaram a favor do Brexit, numa decisão que foi considerada totalmente inesperada. Na ocasião, Blair fez campanha para a permanência do país no bloco. Sua defesa ocorre às vésperas de o projeto de lei do governo chegar à Câmara dos Lordes para apreciação, depois que foi aprovado pela Câmara dos Comuns. Na segunda-feira, deve começar a avaliação e a expectativa da primeira-ministra, Theresa May, é acionar o Artigo 50, que dá início formal às negociações com a União Europeia (UE), até o fim do mês que vem.
Blair disse há pouco que sua missão era "mudar as mentes" e que os britânicos têm uma oportunidade para repensar a questão, que, para ele, é algo obscuro para o país. "Nosso desafio é expor o custo atual do processo e as pessoas têm o direito de mudar suas ideias", enfatizou. "Eu não sei se a gente pode ter sucesso, mas vou tentar", continuou.
O ex-primeiro-ministro optou por apresentar sua estimativa de custo do processo para o país, que, segundo ele, chegará a dezenas de bilhões de libras. Citou segmentos que vão mais sofrer com as mudanças, como o setor aéreo e o financeiro, mas disse também que o país registrará perdas na área científica, de pesquisa e do comércio, entre outros.
Na sua exposição ainda sobre os impactos negativos do Brexit, Blair citou que a libra perdeu 12% de seu valor ante o euro e 20% em relação ao dólar. O ex-premiê disse que a população está se tornando mais pobre, que há um aumento do custo de vida e salientou que o mercado único trouxe "enormes" benefícios para o Reino Unido, como criação de milhares de empregos e oportunidades de investimento.
Além disso, Blair citou questões internas, como a possibilidade de a Escócia promover um referendo para consultar a população sobre a saída do país do Reino Unido. Ao final dessa lista de argumentos, admitiu que a Inglaterra e seus vizinhos "podem, claro, sobreviver sem a União Europeia".
Segundo Blair, a preocupação não é simplesmente em relação a um "hard Brexit", mas um "Brexit a qualquer custo". Batendo de frente com a avaliação feita por May de que cidadãos globais, no fundo, são cidadãos de "lugar nenhum", ele disse que a situação é justamente a oposta. "Não argumento por que a gente não é cidadão de lugar nenhum, mas porque é cidadão britânico."
O ex-premiê acredita que o processo pode levar a um dos maiores danos da história recente do país.
Blair disse saber que a primeira-ministra quer fazer o melhor para o país, mas acabou apontando contradições em seus discursos antigos em relação aos atuais. Como exemplo, disse que May afirmou no passado que deixar o mercado único seria algo catastrófico e hoje ela se diz otimista em relação aos desdobramentos das negociações que tendem a culminar na retirada da Grã-Bretanha desse mercado comum. O argumento do atual governo de que a intenção é ampliar o comércio bilateral também foi rebatido por Blair.
O ex-primeiro-ministro criticou a formação do governo que está à frente das negociações atualmente. "Os que estão negociando sempre quiseram um hard Brexit", afirmou. Em outro momento, ele disse que "este é um governo para o Brexit, do Brexit dominado pela ideia de Brexit" e que os políticos que vão acionar o Artigo 50 o farão não porque sabem de seus destinos, mas porque estão obcecados com essa ideia. Para ele, se a corrente central do país não tem condições de lidar com os problemas que surgem, os "extremistas vão se aproveitar dessa situação".
Blair enfatizou também que a imigração levou à vitória do Brexit, mas ele citou vários números que, segundo ele, contradizem o argumento de que a situação é negativa para o país. Além disso, afirmou que a decisão pelo divórcio com a UE não vai mitigar o problema, se é que ele existe. "O Brexit não significa mais proteção para os trabalhadores, mas, sim, menos", disse.
Para Blair, é preciso construir um acordo agora que vá além das linhas partidárias. "Há diferentes grupos fazendo um bom trabalho", disse em um momento.