Jornal Estado de Minas

'Cocheiros das ondas' chineses fazem as últimas viagens

Com uma sonora chicotada, Qin Yusheng faz as mulas que puxam sua pequena carroça avançarem em meio às ondas de uma praia no nordeste da China, para buscar a pesca do dia e trazê-la para a costa.

Durante décadas, os carrinhos puxados por cavalos circularam pelas águas rasas da península perto de Xianrendao, indo ao encontro dos arrastões apinhados de águas-vivas ancorados nas margens do Mar Amarelo.

Agora, o 'cocheiro das ondas' Qin, 55 anos, está pronto para vender suas duas últimas mulas e se aposentar.

A pesca de águas-vivas, populares na culinária chinesa, está em transformação, e logo a atividade tradicional da sua região vai virar história.

Não muito tempo atrás, Qin e sua equipe de cavalos e mulas passavam 12 horas por dia fazendo viagens de ida e volta entre os barcos de pesca e a costa, transportando as águas-vivas capturadas.

Os pescadores esvaziavam suas presas escorregadias em dezenas de carroças puxadas a cavalo, que as levavam até os galpões de processamento.

Agora, os barcos vão até um novo pier de concreto, construído perto de Xianrendao, na província de Liaoning, e descarregam seus produtos diretamente nos caminhões que os levam para as fábricas da região.

"Não há mais muita necessidade" de usar os carrinhos puxados por animais, e "eu não tenho escolha a não ser me aposentar", reflete Qin, que até lá se dedica a transportar pequenas presas, como caranguejos.

Outro cocheiro, Wang Fenghu, vendeu seus quatro cavalos há cerca de dez anos, e com o dinheiro recebido abriu uma mercearia.

"Ainda não vendi minha carroça, mas agora ela só é boa para fazer lenha", acrescenta nostálgico.

Qin Yusheng, por enquanto, continua rodando em direção aos arrastões ancorados.

"Eu tento fazer o máximo possível de trajetos, mas estou ficando velho", diz.

"Quando as mulas se recusam a obedecer, à noite eu estou exausto", confessa.

"No ano que vem, vou vender as mulas para camponeses ou para o matadouro. Me parte o coração, mas não tenho escolha", lamenta um dos últimos cocheiros do mar que restam na China.

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