Brillante Mendoza traz em "Ma' Rosa", apresentado nesta quarta-feira em Cannes, um grito contra a corrupção com a esperança de "mudar as coisas" em seu país, as Filipinas, que acaba de eleger um presidente imprevisível e populista.
"Ma' Rosa", que mostra um casal de pequenos comerciantes envolvido em problemas com a polícia, "não é um filme comercial. Nós não estamos aqui para divertir, entreter. Estamos aqui para provocar um pensamento crítico ao nosso público", declarou o diretor de 55 anos, após a projeção.
O filme, em competição oficial, é apresentado quando o país acaba de eleger em 9 de maio um novo presidente, que defende soluções extremas aos flagelos da criminalidade, pobreza e corrupção.
Após sua eleição, Rodrigo Duterte se comprometeu a restaurar a pena de morte por enforcamento e autorizar que a polícia "atire para matar".
O cineasta Brillante Mendoza, que quer ser "o mais independente possível", disse que queria evitar tomar partido e deixar o "benefício da dúvida" ao presidente eleito, que será empossado em 30 de junho para um mandato de seis anos.
"Espero que as coisas mudem na direção certa. É meu objetivo, e é por isso faço este tipo de filme", explicou Mendoza à AFP.
'Grande serviço ao meu país'
Ao apresentar o filme, "presto um grande serviço ao meu país", pois permite "abrir os olhos de muitos europeus" e de espectadores de países ricos.
"Ma' Rosa" testemunha os esforços de um casal, dono de uma pequena loja em Manila, para deixar a delegacia para onde foram levados. Porque, para pagar suas contas, Rosa, mãe de família e querida no bairro, prepara pequenos saquinhos de 'cristal', uma droga dos pobres produzida a partir de um derivado sintético da anfetamina.
"Eu conheci um dos personagens do filme", disse Brillante Mendoza. "É baseado em uma história verdadeira, que é bastante familiar para mim, e esta não é a primeira vez que isso ocorre (...) Devemos mostrar essas coisas para que não voltem a acontecer".
Na umidade da noite, sob uma chuva constante, o diretor filipino de 55 anos mostra a violência policial e os esforços desesperados dos três filhos da família, que lutam na pobreza para arrecadar o dinheiro necessário para evitar a prisão dos pais.
Uma câmera em movimento constantemente, imagens escuras, filmadas muito perto dos corpos, contribuem para a atmosfera opressiva do filme, rodado parcialmente em uma delegacia de polícia real.
Esta é a quarta vez de Brillante Mendoza em Cannes. Ele venceu o prêmio de direção em 2009 por "Kinatay", sobre um assassinato sórdido cometido por policiais.