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Estado de Minas

Quando o jihadista se sente vítima


postado em 11/02/2016 19:31

O comum dos mortais os considera uns "monstros", mas os jihadistas, especialmente os que ensanguentaram Paris no último dia 13 de novembro, pensam em si mesmos como vítimas de uma sociedade injusta, explicam os especialistas.

Para tentar compreendê-los, o sociólogo Farhad Khosrokhavar, da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS), e o psiquiatra e criminologista Roland Coutanceau conversaram, dentro e fora de penitenciárias, com islamitas radicais que defendem o jihadismo e simpatizam com os ideais do grupo Estado Islâmico (EI). Nem todos cometeram delitos.

"Aqueles que vêm de subúrbios transformados, em menor ou maior medida, em guetos, sentem-se muito rejeitados, estigmatizados", afirmou à AFP Khosrokhavar.

"É o que chamo de vitimização. Existe uma dimensão real - um Mohammed tem três vezes menos possibilidade de conseguir um emprego do que um Didier - que se justapõe a uma dimensão totalmente imaginária. Eles têm uma sensação profunda de injustiça", acrescenta.

"Em nossos diálogos na prisão e nos subúrbios me dizem: 'nos tratam como insetos, como o exército israelense faz com os palestinos. Por causa de nosso acento, nossa forma de ser, nosso comportamento", diz.

"Vivem isto como uma injustiça total", adverte Khosrokhavar.

"Constrói-se uma visão paranoica do mundo e deles mesmos: sou uma vítima. Na medida em que me negam a humanidade, tenho o direito de ser profundamente injusto e cruel, de matar desconhecidos", pensam consigo, segundo Farhad Khosrokhavar.

"Apresentam uma forma quase clínica de caráter paranoico", afirma à AFP o doutor Coutanceau, presidente da Liga de Saúde Mental francesa, que avaliou vários acusados.

'Desumanizar o inimigo'

Estes jovens, alguns perdidos, outros idealistas, sentem-se atraídos pelo Islã difundido pelo EI e simplesmente fascinados pelas armas e violência; "são, através da Internet e mediadores conhecidos, uma presa fácil para os recrutadores do Estado Islâmico".

Este consegue, segundo Coutanceau, "convencê-los de que tomem as armas e disparem contra civis sentados em terraços de cafeterias ou dentro de uma sala de concertos, em situação de legítima defesa. Para nós, é uma monstruosidade. Para eles, a causa é nobre".

Estão convencidos de que defendem e vingam membros de uma comunidade muçulmana agredida e idealizada, que na realidade não conhecem: os palestinos, civis sírios e iraquianos mortos pelos bombardeios ocidentais, muçulmanos da Caxemira indiana confrontados pelo exército de seu país. "Você mata meus irmãos, eu mato você", disse Mohammed Merah a um soldado francês antes de apertar o gatilho.

Os depoimentos sobre o ataque à sala de concertos Bataclan contam que os assassinos esvaziavam, a sangue frio, os cartuchos de seus fuzis kalachnikov em meio aos gritos da multidão, às vezes mostrando um sorriso. As análises de sangue mostram que não estavam drogados.

Para matar civis desconhecidos desta maneira, antes de detonar o colete de explosivos, é preciso desumanizar as vítimas, explica o psiquiatra.

Esta violência levada ao extremo permite, segundo Khosrokhavar, "transformar" sua sensação.

"Pensam: 'me julgaram, pois agora sou eu quem julga, condeno-os à morte e me torno um carrasco'. Até agora, sentiam-se menosprezados, agora temos medo deles. O temor faz desaparecer o desprezo, há uma espécie de respeito e de reconhecimento no medo", explica.

Pensam: "sou um herói, embora seja um herói negativo. Sou o cavaleiro da fé que combate as forças do mal. Já não me desprezam, mas me temem. Já não sou um inseto".


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