Os cinco especialistas independentes convocam as "autoridades suecas e britânicas" a colocar fim a sua detenção e a respeitar seu direito de receber uma compensação. No entanto, Londres insistiu que a decisão "não muda nada".
O fundador do WikiLeaks "nunca esteve detido arbitrariamente pelo Reino Unido (...) De fato, está evitando voluntariamente uma detenção legal ao escolher permanecer na embaixada equatoriana", disse um porta-voz em um comunicado do Foreign Office. Estocolmo se manifestou na mesma linha, declarando nesta sexta-feira que não está de acordo com a decisão do painel.
"O governo não está de acordo" com este comitê, que convoca a Suécia e o Reino Unido a indenizar Assange, e estima que ele "não tem o direito (...) de interferir em um caso em andamento" nas mãos dos tribunais, informou o ministério das Relações Exteriores.
Assange afirmou que se entregaria nesta sexta-feira ao meio-dia se a decisão fosse desfavorável a ele, mas convocou as autoridades a deixá-lo sair sem importuná-lo se a ONU o apoiasse. "Se vencer, e se ficar concluído que os Estados envolvidos agiram ilegalmente, espero que devolvam meu passaporte e parem com as tentativas de me deter", afirmou o australiano, que ao meio-dia local (10h00 de Brasília) dará uma coletiva de imprensa com seus advogados.
Assange está desde junho de 2012 na embaixada equatoriana, quando pediu asilo a Quito para evitar ser extraditado à Suécia. A procuradoria sueca quer interrogá-lo por um suposto estupro cometido em 2010 e que ele nega.
O australiano sempre temeu que a Suécia fosse apenas uma escala em direção ao seu destino final, os Estados Unidos, cujo governo gostaria de puni-lo por ter publicado milhares de documentos confidenciais sobre as guerras de Iraque e Afeganistão, assim como documentos privados das embaixadas americanas com afirmações pouco diplomáticas.
O homem que forneceu a ele muitos destes documentos, o soldado Chelsea Manning, cumpre uma condenação de 35 anos de prisão. "A acusação de estupro segue de pé e a ordem de prisão europeia continua vigente, então o Reino Unido tem a obrigação legal de extraditar Assange à Suécia", disse o governo britânico.
EXPECTATIVA DA EMBAIXADA
Dezenas de jornalistas aguardavam nesta sexta-feira diante da embaixada equatoriana pela possibilidade, nada certa, de que Assange deixe o local. A embaixada está no bairro de Knightsbridge, ao lado da luxuosa loja Harrods.
O quarto em que Assange vive está dividido em um escritório e uma sala de estar. Tem uma esteira para fazer exercícios, um chuveiro, um micro-ondas e uma lâmpada de luz solar artificial. Há varandas, às quais Assange se dirigiu em poucas ocasiões, temendo por sua segurança. "Sua existência é miserável", resumiu à AFP Vaughan Smith, um amigo de Assange, que espera que o deixem sair.
Os quase quatro anos em que Assange permaneceu na embaixada foram desgastantes para o australiano e muito caros para os britânicos e os equatorianos. Desde que entrou na embaixada, a polícia britânica mobilizou um forte dispositivo de segurança para detê-lo caso deixasse o local.
Mas o Equador também se queixa. O presidente equatoriano Rafael Correa se perguntou na quinta-feira "quem vai ressarcir o dano que foi feito a Julian Assange e ao Equador? Vocês sabem quanto custa manter a segurança na embaixada?".
"Tivemos tentativas de espionagem e muitas outras coisas", denunciou Correa, ao mesmo tempo em que se mostrou satisfeito de que tenha sido dada razão ao Equador "depois de tantos anos" ao considerar ilegal o confinamento.