Autoridades da América Latina coordenam respostas ao desafio do zika

AFP

As autoridades sanitárias da América Latina se reuniram nesta quarta-feira em Montevidéu para coordenar suas respostas ao desafio do zika, num clima de alerta reforçado por um caso de possível contaminação sexual nos Estados Unidos.

Os ministros da Saúde de 12 países da América do Sul, além de México e Costa Rica, se comprometeram a "desenhar e executar campanhas de educação para o controle vetorial" e "fomentar ações permanentes e colaborativas para a geração de conhecimento" sobre o zika vírus.

Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também é vetor da dengue e da chikungunya, o novo surto de microcefalia em recém-nascidos e provavelmente também a uma doença neurológica.

"O que preocupa os ministros é a rapidez com que a infecção do zika vírus tem se espalhado, já que em menos de um ano o vírus se disseminou em 26 países", disse a diretora da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), Carissa Etienne, que também participou da reunião.

Com casos isolados confirmados na Indonésia, Tailândia, Cabo Verde e temores diante da vulnerabilidade de contágios na Ásia, por ora a América do Sul é a região mais afetada: mais de 1,5 milhões de casos no Brasil e mais de 20.000 na Colômbia.

No Brasil, os casos de microcefalia aumentaram de 150 a 4.793 em quatro meses - embora a relação com o vírus ainda não tenha sido demonstrado cientificamente.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou na segunda-feira estado de emergência pública internacional pelo possível vínculo entre o contágio de zika em mulheres grávidas e um aumento de casos de bebês nascidos com microcefalia.

O ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Castro, afirmou nesta quarta-feira em Montevidéu que existe "de maneira categórica e inquestionável" uma "correlação entre o zika e os casos de microcefalia. As evidências são múltiplas e inquestionáveis".

Etienne lembrou que "em outros países não foram registrados casos de microcefalia associados à infecção de vírus de Zika".

O vírus também é suspeito de causar a síndrome neurológica de Guillain-Barré (SBG), que pode causar uma paralisia definitiva.

- Guerra ao Aedes aegypti -

A Organização Mundial da Saúde pediu nesta quarta-feira aos países europeus para que coordenem entre si uma ação para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que além do vírus zika transmite a dengue, a febre amarela e o chikungunya.

"Peço aos países europeus a tomarem medidas coordenadas para controlar os mosquitos através do envolvimento das pessoas para eliminar os focos e do planejamento para espalhar inseticida e matar as larvas", escreveu em um comunicado a diretora Europa da OMS, Zsuzsanna Jakab.

O zika também é suspeito de causar síndrome neurológica de Guillain-Barré (SBG), que pode causar uma paralisia definitiva.

"A resposta para este problema está na luta contra o mosquito que transmite o vírus", afirmou Etienne.

Quando foi perguntada se considera a possibilidade de fumigar pelo ar as zonas afetadas, a responsável da OPAS lembrou que esta medida "não elimina as larvas do mosquito, apenas os adultos, portanto tem um valor muito limitado".

Às vésperas dos Jogos Olímpicos no Rio em agosto, o Brasil mobilizou mais de meio milhão de trabalhadores de saúde e militares, entre outros, para combater o mosquito Aedes aegypti.

"Estamos fazendo o maior esforço na história do Brasil", disse o ministro Marcelo Castro.

"Temos 46.000 agentes de combate que estão indo de casa em casa, e reforçamos com outros 266.000 agentes comunitários de saúde que não faziam este trabalho, mais de 210 mil soldados das forças armadas do país", acrescentou o Castro.

- Contagio por via sexual -

O último sinal de alerta pelo zika chegou do estado norte-americano do Texas, onde foi registrado um caso do vírus transmitido por via sexual e não pela picada de mosquito. Segundo as autoridades sanitárias do condado de Dallas, o paciente teve relações sexuais com uma pessoa doente que esteve em viagem na Venezuela.

No entanto, o porta-voz dos CDC que confirmou à AFP a informação da infecção de zika não contou a maneira como o indivíduo teria contraído o vírus.

"Se confirmado, isso representaria uma nova dimensão do problema", disse a diretora da OPAS.

Neste sentido, o ministro da Saúde uruguaio, Jorge Basso, pontuou que ainda "não há respostas ou evidências" da contágio sexual.

A perspectiva de que o vírus seja transmitido sexualmente e não apenas pela picada do mosquito Aedes aegypti é preocupante para a Europa , Estados Unidos e outras regiões fora da América Latina, onde todos os casos foram importados até agora.

A OMS e a OPAS calculam que haverá 3 a 4 milhões de casos de zika em 2016.

O vírus foi descoberto em uma floresta de Uganda chamada Zika, em 1947.

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