O conservador Marcelo Rebelo de Sousa, de 67 anos, do Partido Social-Democrata (PSD), foi eleito presidente de Portugal no primeiro turno, com folga, nesse domingo - de acordo com resultados oficiais após a apuração de mais de 99% das urnas.
Esse professor de Direito Constitucional e famoso comentarista de televisão teria obtido pelo menos 52,11% dos votos, uma ampla vantagem em relação a seu oponente mais próximo, o independente de esquerda António Sampaio da Novoa, com 22,74%. Marisa Matias, a candidata do Bloco de Esquerda, próximo ao grego Syriza e ao espanhol Podemos, surpreendeu ao aparecer em terceiro, com 10,14% dos votos, à frente da ex-ministra socialista Maria de Belém Roseira (4,26%).
No total, dez candidatos estão na disputa, um número recorde para eleições presidenciais em Portugal. "Votei no professor Marcelo. Depois de vê-lo tantos anos na televisão, conheço suas ideias políticas", afirma o aposentado Mario Machado, de 72 anos, depois de votar, em Lisboa.
Para o contador José Nascimento, de 57 anos, que votou em uma candidata da esquerda, "Marcelo é uma personalidade do mundo do espetáculo, que promete tudo para todo o mundo".
Rebelo de Sousa, que tem grande popularidade além da esfera política graças a sua carreira de comentarista na televisão, realizou uma campanha personalista, sem cartazes, ou panfletos, privilegiando o contato direto com os eleitores.
Para o cientista político José Antonio Passos Palmeira, ele "é um candidato de consenso com um discurso moderado, que capta votos entre a direita e a esquerda".
A abstenção recuou ligeiramente, chegando a 51,5%, um pouco abaixo do recorde de 53,48% registrado na última eleição à presidência, em 2011. Quase 9,7 milhões de portugueses eram esperados nas urnas neste domingo.
Papel de árbitro Marcelo Rebelo de Sousa tem o apoio oficial dos dois partidos de direita, PSD e CDS, mas se distanciou de ambos, associados às impopulares políticas de austeridade da legislatura anterior. "Não serei o presidente de nenhum partido", prometeu, declarando que deseja ser "um árbitro acima das confusões".
Rebelo de Sousa é bastante diferente do atual presidente, Aníbal Cavaco Silva, que, aos 76 anos, chega ao fim do segundo mandato consecutivo. Ao contrário de Cavaco Silva, o "professor Marcelo" se mostra bastante conciliador com o governo de esquerda liderado por António Costa, seu ex-aluno na Faculdade de Direito de Lisboa. Se for eleito, acredita o cientista político António Costa Pinto, "Marcelo não será um inimigo político do governo socialista".
Em Portugal, embora o chefe de Estado não tenha poder Executivo, exercendo funções basicamente honorárias, ele dispõe de uma prerrogativa: a de dissolver o Parlamento.
Para analistas políticos consultados pela AFP, Rebelo de Sousa teria intenção de fazer uso dessa ferramenta apenas no caso de uma ruptura na inédita aliança da esquerda. O arranjo surgiu depois das eleições legislativas de 4 de outubro passado. No pleito, a coalizão de direita venceu, mas não obteve maioria absoluta.
O futuro presidente prestará juramento em 9 de março. De acordo com a Constituição, ele poderá usar sua prerrogativa de dissolução do Parlamento somente a partir de abril, seis meses depois das eleições legislativas de outubro..