Erosão, desertificação, seca do lago Chade: a França prometeu nesta terça-feira 2 bilhões de euros para o desenvolvimento de energias renováveis na África até 2020, a fim de quitar uma parte da "dívida ecológica" dos países ricos com o continente.
"A França quer dar o exemplo", mostrar que ela não é apenas "o apoio às forças africanas" como no Mali ou na República Centro-africana, afirmou o presidente francês François Hollande durante uma reunião com governantes africanos paralela à COP21.
Os 2 bilhões de euros prometidos para as energias renováveis representarão um "aumento de 50% com relação aos últimos cinco anos", explicou o Eliseu.
A África receberá assim "uma parte bastante importante" do esforço de financiamento global consentido pela França para lutar contra o aquecimento global, que deve ser de 3 a 5 bilhões de euros por ano de hoje a 2020, ressaltou Hollande.
A África sofre com força as consequências do aquecimento global, embora seja responsável por apenas 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, pelas quais os países ricos são historicamente responsáveis. O mundo tem "uma dívida ecológica" em relação ao continente africano, disse Hollande.
Entre as "calamidades" que se abateram sobre ela, a África está experimentando "uma seca sem precedentes em décadas" e o Lago Chade tem visto o derretimento de sua superfície - passando de 25.000 km2 nos anos 1960 para 2500 hoje em dia - apontou o presidente da comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma.
"Eu vi com meus próprios olhos o rio Níger se perder nas areias", declarou o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita.
Além estragos para o planeta, a mudança climática tem "consequências desastrosas para seu povo", disse o chefe de Estado mauritano Ould Abdel Aziz Mohamed, citando a pobreza e as culturas destruídas.
O nigerino Mahamadou Issoufou falou sobre a "relação estreita entre a seca do Laho Chade e o terrorismo na região" onde atua o grupo Boko Haram. Mencionando o "cortejo de refugiados e deslocados" ligados a estes dois rios, ele pediu agir "rápido, rápido, antes que seja muito tarde".
- 'Pasta específica'-
A situação na África, continuou o presidente guineense Alpha Condé, pede não apenas "generalidades", mas "propostas concretas" da comunidade internacional. "Queremos uma pasta específica para a hidrelétrica das barragens", pediu.
"Precisamos sair de Paris antes de realmente saber o que a comunidade internacional vai colocar nos projetos" levados para o continente, acrescentou o presidente senegalês, Macky Sall.
Entre outras iniciativas, a África está tentando construir do Senegal a Djibuti, a "Grande Muralha Verde", uma barreira vegetal para conter o avanço do deserto.
Para estes projetos de "adaptação" ao aquecimento do clima, a França "gradualmente triplicará seus compromissos bilaterais na África, atingindo um bilhão de euros por ano em 2020", também prometeu o Eliseu.
Para a Fundação Nicolas Hulot, esses anúncios "estão indo na direção certa: mais solidariedade com os países em desenvolvimento, mais dinheiro para a adaptação".
"Não se trata de novos financiamentos", mas da execução do orçamento geral apresentado em setembro, rebateu Romain Benicchio, porta-voz da Oxfam França.
Acima de tudo, temos de garantir que o plano de desenvolvimento das energias renováveis na África "seja baseado principalmente em energia solar e eólica, e não em mega barragens hidrelétricas que são erguidas em detrimento da população local", disse Kumi Naidoo, diretor do Greenpeace International.
A África, que em 2009 ficou dividida durante a conferência do clima de Copenhague, chegou à COP21 apresentando uma frente unida. O continente reclama um apoio financeiro substancial e transferência de tecnologia para fornecer eletricidade verde para os 700 milhões de africanos.
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