A Rússia acusou nesta quarta-feira a Turquia de "provocação planejada", um dia após a aviação turca abater um avião russo perto da fronteira com a Síria, sem que tenha advertido os pilotos, segundo relatou o único sobrevivente do incidente.
"Não houve nenhuma advertência. Nenhum contato via rádio, nenhum contato visual. Não houve nenhum contato", declarou Konstantin Murakhtin, um homem filmado de costas e apresentado como o piloto por vários canais russos. "Se o exército turco quisesse nos advertir, ele teria o feito voando paralelamente a nós", afirmou, acrescentando que "nem por um segundo" entraram no espaço aéreo turco.
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Manifestantes russos apedrejam embaixada da Turquia em MoscouRússia diz que não quer guerra com a TurquiaUcrânia proíbe aviões russos de sobrevoar seu territórioExército turco divulga gravação de advertências a caça russo abatidoNo entanto, "não planejamos ir a uma guerra com a Turquia. Nossa atitude em relação ao povo turco não mudou", garantiu Lavrov. Em Ancara, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tem procurado aliviar as tensões, garantindo que não ter "absolutamente nenhuma intenção de provocar uma escalada após este caso".
Na mesma linha, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu ressaltou diante dos deputados de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) que Ancara é um "amigo e vizinho" da Rússia.
Na terça-feira, um caça-bombardeiro russo Su-24 foi derrubado por dois caças turcos F-16. Ankara afirma que a aeronave russa invadiu o espaço aéreo turco, enquanto Moscou garante que voava no céu sírio.
O segundo foi resgatado em uma operação, durante a qual um outro soldado russo foi morto. Este incidente é o mais grave ocorrido entre a Rússia e a Turquia desde o início da intervenção militar russa na Síria, há dois meses.
Contatos diplomáticos
Por uma questão de apaziguamento, Mevlut Cavusoglu e Lavrov "concordaram em se reunir nos próximos dias", segundo o porta-voz do ministério das Relações Exteriores turco, Tanju Bilgic. Durante uma longa conversa por telefone, o ministro turco "tentou justificar as decisões da força aérea" de seu país, dizendo que a aeronave russa "voou um total de 17 segundos no espaço aéreo turco", revelou Lavrov.
Mas "este ataque é totalmente inaceitável", insistiu ele, acrescentando que Moscou "reavaliará seriamente" as relações entre os dois países. Moscou e Ancara se opõem desde o início sobre a crise síria. A Turquia exige a partida do presidente Bashar al-Assad antes de qualquer solução política para o conflito que já matou 250.000 pessoas em quatro anos e meio. Por sua vez, a Rússia apoia, juntamente com o Irã, o presidente sírio.
Nesta quarta, o presidente turco voltou a denunciar a intervenção russa na Síria, dizendo que Moscou não visava o Estado Islâmico (EI). O incidente também ameaça os esforços da França de juntar Moscou a uma coalizão antijihadista após os ataques em Paris.
Russos jogam pedras
Durante uma conversa telefônica, Erdogan e seu colega americano Barack Obama ressaltam a "importância de diminuir as tensões e evitar novos incidentes similares", segundo a presidência turca. Mas de acordo com meios de comunicação turcos, que citam fontes militares, a aviação turca reforçou suas patrulhas na fronteira síria depois do incidente de ontem: 18 F-16 estão mobilizados.
Nas ruas, manifestantes jogaram pedras e quebraram janelas da embaixada da Turquia em Moscou, constatou nesta quarta-feira um fotógrafo da AFP no local. Centenas de manifestantes, quase todos homens com entre 20 e 30 anos, reuniram-se no início da tarde em frente à embaixada da Turquia onde gritaram palavras de ordem contra o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, sob o olhar da polícia que não interveio.
Líderes russos não escondem descontentamento
O presidente russo, depois de denunciar na terça-feira uma "punhalada nas costas pelos cúmplices de terroristas", chamou seus compatriotas a boicotar as praias turcas frente a "ameaça terrorista" no país.
Seu primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, criticou as "ações absurdas e criminosas", e acusou a Turquia de "proteger membros do grupo Estado Islâmico", destacando o "interesse financeiro direto de algumas autoridades turcas" na venda de petróleo bruto produzido em áreas controladas por jihadistas.
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