Mauricio Macri, candidato pró-mercado de direita que venceu a eleição à presidência da Argentina no domingo, triunfou em um segundo turno acirrado, em um país polarizado após 12 anos de governos kirchneristas de centro-esquerda, o que o obrigará a construir um governo de consensos.
Leia Mais
Conservador é eleito presidente da ArgentinaConservador Macri vence eleição e anuncia nova era na ArgentinaArgentina tem novo presidente: o liberal da direita Mauricio MacriTrês semanas depois, Scioli foi derrotado por menos de três pontos por Macri: 51,44% contra 48,56%, com 98,98% das urnas apuradas. "A margem da vitória é bastante limitada", disse à AFP o sociólogo Gabriel Puricelli, presidente do Laboratório de Políticas Públicas na Argentina, ao recordar que Macri será obrigado a trabalhar com o Congresso de maioria opositora.
Grande parte do Legislativo apoia a atual presidente Cristina Kirchner e Macri será obrigado a estabelecer alianças pelo menos até 2017, quando acontecerão eleições parlamentares. A seu favor, o presidente eleito conta com a província de Buenos Aires, a de maior população, assim como três das cinco maiores províncias do país, que serão governadas por sua aliança de centro-direita 'Cambiemos'."Peço a Deus que me ilumine para poder ajudar cada argentino a encontrar sua forma de progredir. Eu estou aqui por vocês, assim peço, por favor, não me abandonem, sigamos juntos", disse Macri.
No dia 10 de dezembro, quando a presidente Cristina Kirchner entregar o poder, o país iniciará uma etapa inédita com um novo espaço político da direita. Em quase um século, a Argentina não teve nenhum presidente eleito em votação livre e sem fraude que não fosse peronista ou 'radical' (social-democratas).
Em sua vida democrática, a Argentina apenas teve no poder a alternância entre o Partido Justicialista (PJ, peronista) e a UCR. "Isto é história", disse Marcos Peña, chefe de campanha de Macri e um dos mentores do Pro (Propuesta Republicana), o partido do novo chefe de Estado, em meio aos aplausos dos simpatizantes ao vencedor da eleição.
Presidente e novos desafios
Macri, um engenheiro de 56 anos, que foi presidente do clube de futebol Boca Juniors, foi eleito para um mandato de quatro anos e na primeira metade do período será obrigado a estabelecer alianças no Congresso, onde o kirchnerismo tem maioria absoluta no Senado e é a primeira força na Câmara dos Deputados.
Como candidato, prometeu liberar o mercado de câmbios, estimular a iniciativa privada, reordenar o Estado, retomar vínculos abalados com as grandes potências desenvolvidas e resolver a questão da dívida em litígio judicial com fundos especulativos em Nova York. Também antecipou que pedirá a aplicação da cláusula democrática e a suspensão da Venezuela do Mercosul por ter presos políticos, em sua opinião.
Na sede da campanha de Macri o clima era de euforia com a vitória da aliança 'Cambiemos' (Mudemos), forjada com os radicais da UCR (social-democratas). O presidente eleito vai suceder Cristina Kirchner, que governa o país desde 2007 e é viúva do falecido presidente Néstor Kirchner (2003-2007). A Argentina teve 12 anos de kirchnerismo no poder. A presidente ligou para Macri para felicitá-lo e os dois concordaram com uma reunião na terça-feira na residência oficial de Olivos, segundo o canal C5N.
As comemorações dos simpatizantes de Macri chegaram ao tradicional Obelisco, no centro de Buenos Aires, enquanto poucos militantes kirchneristas permaneciam na Praça de Maio. Nas redes sociais, a hashtag #Cambiemos dominou a noite de domingo, mas não apenas para celebrar a vitória e manifestar "esperanças". "Os percentuais mostram um país fraturado. O ódio não é militância.