Jornal Estado de Minas

Gritos, lágrimas e sangue ocuparam a estação de Ancara após explosão de bombas

Pelo menos 86 pessoas morreram na tragédia - Foto: ADEM ALTAN / AFP

Dezenas de cadáveres sobre o asfalto, sangue espalhado, gritos e lágrimas: pouco depois das dez da manhã, o coração da capital turca parou por duas enormes explosões que mataram ao menos 86 pessoas. Diante da estação, centenas de pessoas provenientes de todo o país começavam a se organizar para marchar pela paz, convocadas por organizações de esquerda próximas à causa curda, quando duas explosões atingiram a esplanada em frente ao edifício.

"Ouvimos uma explosão forte e outra pequena. Ocorreu um grande movimento de pânico, e depois vimos cadáveres na esplanada da estação", declarou Ahmet Onen, um aposentado de 52 anos, que saiu apressadamente do local junto a sua esposa, que começou a chorar.


"Vi um homem com a perna arrancada, caído no chão. Também vi uma mão seccionada sobre o asfalto", contou Sahin Bulut, membro da Associação de Engenheiros de Istambul de 18 anos que iria participar da manifestação.


Duas horas após as explosões, as forças de ordem isolaram o local, onde funcionários da polícia forense buscavam pistas entre os escombros.


Um pouco mais longe, os corpos das vítimas jaziam no chão cobertos com as bandeiras de algumas das organizações que convocaram a manifestação, entre elas o emblemático Partido Democrático dos Povos (pró-curdo).


Enquanto as sirenes continuavam soando, as ambulâncias retiravam os feridos para levá-los aos hospitais da cidade. Segundo um balanço provisório, 186 pessoas ficaram feridas, algumas em estado muito grave.




"Quero vê-lo!"

Em meio aos escombros e aos cadáveres, era possível encontrar bolinhas de ferro que muitas vezes são utilizadas como estilhaços nos ataques.

"Houve gente que morreu imediatamente, outras ficaram gravemente feridas. É um verdadeiro massacre", contou um advogado de 30 anos que iria participar da manifestação e que prefere não fornecer seu nome.


Na estação, um denso cheiro de carne humana queimada se misturava à poeira dos escombros.


Dezenas de pessoas tentavam encontrar seus entes queridos.


"Você o viu? Você o viu? Se chama Gokhan, estava comigo", dizia insistentemente um jovem, enquanto roía as unhas, angustiado pela espera.


Um pouco mais à frente, uma mulher vestida com as roupas tradicionais curdas gritava.


"Quero vê-lo! Quero vê-lo!", enquanto a polícia a levava para fora do perímetro de segurança.


Entre os sobreviventes a revolta aumentava. Muitos acusavam as forças de ordem de não terem garantido a segurança da manifestação. "Nenhum manifestante foi revistado pelos agentes", explicou Ahmet Onen.


Um grupo de manifestantes criticava o chefe da polícia, que convocou seus homens a disparar tiros para o ar para dispersá-los.


"Nunca na minha vida vi algo assim", confessava um agente diante de vários veículos policiais destruídos pelos manifestantes.

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