A jornalista e ativista franco-brasileira Manuela Picq, que se livrou de ser expulsa do Equador após ter sido detida durante protestos violentos contra o governo, viajou forçada nesta sexta-feira ao Brasil forçada, segundo ela, pela impossibilidade de permanecer legalmente no país.
"É a primeira vez que tenho que deixar um lugar por obrigação", afirmou Picq à imprensa no aeroporto internacional de Quito antes de embarcar em um avião rumo ao Rio de Janeiro.
A mulher de 38 anos, que está no Equador há 11 anos anunciou a decisão de deixar o Equador temporariamente, pois não conseguiu que a justiça reativasse seu visto, que foi revogado.
Mais cedo, Picq adiantou que voltaria ao Brasil para conseguir um visto do Mercosul, que em teoria lhe permitira voltar ao Equador para se reencontrar com seu companheiro, o líder opositor indígena Carlos Pérez.
"Se nos negarem o visto do Mercosul, entraremos com um processo para que seja reconhecido nosso matrimônio", defendeu Picq, que assegura ter se casado com Pérez conforme um ritual ancestral.
Picq foi detida em 13 de agosto quando participava de uma marcha, em Quito, ao lado do companheiro, durante um protesto contra o presidente Rafael Correa, que terminou em violentos confrontos que deixaram dezenas de detidos e feridos, muitos deles policiais.
As autoridades revogaram seu visto e iniciaram um processo para conseguir sua deportação, mas uma juíza negou o pedido de expulsão da jornalista na segunda-feira.
O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, justificou a revogação do visto da jornalista.
Picq "teve o visto revogado porque estava desenvolvendo atividades políticas e estava no meio de uma atividade de violência e agressão ao patrimônio histórico de Quito", disse Patiño ao canal Ecuavisa.
"Espero poder retornar o mais breve possível para continuar com as atividades profissionais", disse Picq, que, além de colaborar com meios de comunicação internacionais, como o canal Al Jazzera, é professora de uma universidade privada.
A ativista disse à imprensa que resolveu deixar o Equador de comum acordo com seu companheiro, com o desejo de ficar perto da família e iniciar os trâmites de um visto do bloco regional Mercosul para trabalhar no Equador.
Visivelmente emocionado, o líder indígena opositor confessou que a partida de sua companheira implica uma "perda enorme".
"Vamos ficar separados por um tempo e vou me afastar para assegurar meu bem-estar físico", disse Picq.
Seu caso foi assumido por um setor dos indígenas e da oposição como uma nova bandeira de luta contra o governo de Correa, ao qual acusam de realizar políticas que buscam retirar dos nativos a gestão da água, da terra e da educação em seus territórios ancestrais.
Os indígenas contrários ao governo rejeitam uma emenda constitucional em trâmite que permitiria a Correa, no poder desde 2007, se candidatar às eleições de 2017.
