Rumo ao confronto
Símbolo da luta palestina contra a ocupação, os assentamentos e, em especial, contra o muro de separação erguido por Israel na Cisjordânia, Bil'in ficou conhecida mundialmente por causa do filme 5 câmeras quebradas (5 broken cameras, em inglês), uma coprodução palestino-israelense premiada em festivais internacionais e indicada ao Oscar de melhor documentário em 2013.
Ao som de tambores, a marcha se inicia saindo da vila em direção aos campos de oliveiras e ao muro que contorna o assentamento israelense vizinho, confiscando, em seu percurso, boa parte da terra cultivável da vila árabe. Sob o argumento de se proteger contra atentados, o governo de Israel iniciou a construção da barreira em 2002, no auge da Segunda Intifada, revolta palestina contra a ocupação. O trecho em Bil'in começou a ser erguido em 2005.
Em sua maior parte, a barreira é feita de cercas eletrificadas de 2 metros, acrescida de valas e arame farpado. Em zonas industriais, áreas de maior densidade populacional ou em áreas de assentamento, porém, foi erguido um muro de concreto de 8 metros. A um custo de construção de mais de US$ 2,5 bilhões, somados a mais de US$ 250 milhões anuais de manutenção, 85% da barreira de separação está construída em áreas da Cisjordânia, anexando terras palestinas de maneira a incluir colônias israelenses em seu traçado.
Ao se aproximar do muro, a manifestação é recebida pela polícia de fronteira israelense, que, com tropas em solo e veículos blindados, lança um grande volume de gás lacrimogêneo. Na lei militar israelense, protestos em áreas palestinas com 10 ou mais pessoas são ilegais e passíveis de uso de força para sua dispersão. Com os mais jovens liderando a aproximação, a manifestação se transforma numa batalha campal. Soldados equipados disparam gás e balas de borracha, enquanto vários dos manifestantes se valem de fundas para lançar pedras. Por vezes, os ativistas correm aos gritos de “tutu”, do inglês “two two”, se referindo a disparos de munição real calibre 22. Em cerca de uma hora e meia de confrontos, o saldo é de três feridos, levados por ambulâncias, e quatro ativistas detidos, um palestino e três israelenses, que serão soltos horas depois.
Palestino, meio brasileiro
No filme 5 câmeras quebradas, são várias as referências ao Brasil. Marcando presença na vila, filmando os protestos com a sexta câmera em mãos, Emad Burnat, o diretor palestino, fala português o suficiente. “Sou meio brasileiro, tenho documento”, afirma ele, que é casado com a palestina e gaúcha Soraya, que também aparece no documentário. Segundo ele, muitas pessoas da região de Bil'in imigraram para o Brasil, inclusive um avô. “Tenho dois tios no Rio Grande do Sul”, completa.