Convidado de honra no Salão do Livro de Paris, o Brasil começou a mostrar, nesta sexta-feira, a vitalidade de sua literatura, no primeiro dia do evento, que vai até domingo.
No total, os 48 autores brasileiros presentes, entre ficcionistas, ensaístas, teatrólogos, poetas e quadrinistas foram à abertura da feira literária para refletir sobre a diversidade de uma literatura que traz um toque cada vez mais urbano.
"Há o aparecimento de novas vozes, autores que escrevem sobre as cidades com uma diversidade de experiências urbanas", disse à AFP a escritora de livros infanto-juvenis Ana Maria Machado.
Autores como Michel Laub, Tatiana Salem Levy e Carola Saavedra representam a renovação na literatura nacional, em meio a veteranos como Paulo Coelho, Ana Maria Machado e Nélida Piñon.
"Temos vivido uma urbanização quase selvagem, dada a velocidade com que aconteceu, e todos esses problemas aparecem nos livros da nova safra", garante Machado.
Portanto, a literatura brasileira tem se distanciado do regionalismo para se tornar cada vez mais urbana e cosmopolita.
"Incentivos permitiram tradução de 400 obras a outras idiomas"
Problemas sociais como a desigualdade, o racismo e a violência adquirem cada vez mais protagonismo graças a obras como "Cidade de Deus", de Paulo Lins.
"É impossível falar sobre o Brasil sem mencionar a violência, porque está em todas as partes", assegura o escritor e jornalista Arthur Dapieve.
Para Juca Ferreira, o objetivo da seleção de autores brasileiros é mostrar ao mundo a realidade de "um país complexo", para além dos aspectos positivos que costumam ser associados ao Brasil: criatividade, exotismo, alegria etc.
Por outro lado, o ministro defendeu a política cultural adotada pelo governo que, segundo ele, permite que a literatura brasileira seja conhecida em todo o mundo.
"Desde 2011, nossa política de incentivos à tradução de obras resultou em 400 livros traduzidos a outros idiomas", lembrou ele. "A França é um parceiro histórico do Brasil na área cultural, e a influência do cinema e da literatura franceses têm sido muito importantes para os brasileiros".
Brasil e França reforçam cooperação na área cultural
Juca Ferreira anunciou a assinatura de um acordo com a ministra da Cultura da França, Fleur Pellerin, para reforçar a cooperação entre os dois países no âmbito cultural.
O Brasil também pretende se beneficiar da experiência francesa em certos temas, como a defesa dos livreiros independentes.
O Congresso brasileiro analisa um projeto de lei que visa a estabelecer un preço único para os livros, assim como ocorre na França.
A medida, que impõe um preço de venda comum a todos os vendedores de livros, é, segundo Ferreira, uma boa forma de evitar "monopólios", na comparação entre grandes e pequenas livrarias.
O ministro aproveitou para ressaltar a importância das manifestações que ocorreram em quase todos os estados do Brasil, no domingo (15).
"É normal que a gente se manifeste", acrescentou, a propósito dos protestos contra a estagnação econômica no país.